Fiquei surpreso com algumas pessoas que comentaram que nunca tinham visto orquídeas no mato. Ok, isto não é problema algum. Antes de eu me interessar realmente pelas orquídeas elas passavam desapercebidas mesmo. Resolvi escrever um segundo post sobre este tema para mostrar um exemplo urbano, retirado hoje, ao lado de minha casa. Fora isto, vou escrever algumas palavras sobre algumas questões foram levantas no blog e no Facebook.
Antes de mais nada, vamos fazer uma incursão ao terreno ao lado de minha casa. O cenário é mais ou menos o seguinte: moro em Curitiba, perto da avenida de maior movimento da cidade. Entre nós está um pequeno córrego e um terreno com mata ainda nativa. Resumindo, é um pedaço de mata ao lado do maior fluxo de movimento automotivo da cidade. Aliás, agradeço a esta mata por estar aqui. Ela filtra quase todo ruído da avenida.
Vamos começar. Esta foto é do local. Na verdade, existem dois terrenos, um de cada lado da rua. Um grande, com quase 70 metros de frente, e este, com uns 15, que dá direto para o córrego. Vamos ver o que tem nele…
Se vocês notarem, há uma planta no centro da foto, daquelas que usamos as folhas para brincar de espadas com os amigos quando crianças. Eis o que ela nos reserva:
Sim, Gomesas. Gomesa recurva, para ser preciso. Sempre depois da florada (final do ano), temos vários pontos com esta plantinha brotado. Outro exemplo? Este é no quintal de casa, em uma goiabeira:
Entrando um pouco no mato, vemos as plantas mais antigas, provavelmente as mães destas pequenas mudas:
Bacana, não?
E tem mais:
Eurystyles actinosophila
Campylocentrum aromaticum
Acianthera
Acianthera sonderana
Isto sem contar as outras que não achei… sei que ali tem uma muda de Barbosella, algumas Leptotes, Pleurobotryum… mas estas não achei para fotografar hoje. A mata está mais fechada e não rolou entrar muito (cobras, sabe como é).
Viram só, talvez prestando mais atenção todos nós podemos achar alguma coisinha bacana em meio ao mundaréu de concreto que vivemos. Imaginem só o que podemos achar nas matas nativas.
Agora atenção! O maior presente que podemos dar ao nosso planeta é preservar isto, não retirando nada do lugar, deixando a natureza fluir seu curso com o menor número possível de danos causados pelo homem. Acho que o maior barato disto é observar, fotografar, refletir. Existem muitos grupos de pessoas que apenas fotografam orquídeas, sabia? Por não poderem ter em casa, fotografam tudo que podem para ter uma lembrança. É só procurar, por exemplo, no Flickr.
Ok, após este momento de exposição, algumas questões que foram levantadas na discussão do post anterior e que valem um comentário:
Recolocação de plantas nas matas
Como disse no outro post sobre o assunto, é uma coisa que demanda cuidado. Repetindo minhas próprias palavras, a reintrodução de espécies exóticas (não nativas da região) pode causar sérios danos à flora local. Imaginem o cenário: você coloca em uma floresta um híbrido lindão. Nesta floresta existem Cattleyas ameaçadas de extinção. Seu híbrido começa a se desenvolver rapidamente, afinal, é um melhoramento genético das Cattleyas nativas. Talvez até daquela que está ali, ameaçada. Após alguns anos as duas espécies começam a competir por recursos e o híbrido é mais forte, se sobrepõe à espécie nativa. Pronto, fim da história, mais uma espécie extinta.
Sementes
Também vale o mesmo raciocínio que fiz no outro post. As orquídeas são plantas exigentes e especializadas e, consequentemente, sofrem com as interferências nas florestas primitivas. Elas possuem frutos em forma de cápsulas, capazes de armazenar, cada uma, até três milhões de sementes. As sementes não possuem reservas (endospermas) e só germinam ao encontrar ambiente propício. Assim, quando a cápsula explode, a matriz ‘aposta’ em muitas possibilidades, na expectativa de que pelo menos algumas caiam em um local ideal e uma nova planta germine. Vejam por exemplo os exemplos das Gomesas que coloquei acima. Se as sementes das Gomesas que tem ao lado de casa tivessem uma taxa de germinação levemente notável, as árvores aqui do lado teriam milhares de mudas. Não é o que acontece. Moro aqui há três anos e só vi até hoje estas pequenas que fotografei. Claro, há mais, mas não contem com uma população muito maior do que 10 ou 15 indivíduos.
Queimadas
Sim, perdemos muito com as queimadas. Uma pequena área queimada infelizmente elimina tudo da região. Mas também temos que lembrar que a natureza é sábia e, parafraseando Ian Malcolm no filme Jurassic Park, “a natureza sempre encontra um caminho“.
Orquídeas em troncos caídos
Aqui são dois pesos para a mesma moeda. Se o tronco estiver na mata, deixe a orquídea lá. Faz parte do ecossistema e da tal natureza. Ela sabe o que faz. Ali no chão ela estará encerrando seu ciclo, mas ainda poderá florir e semear a região. Já em troncos urbanos, em um lugar que não tem mais nada ao redor a não ser a selva de concreto, sinceramente não sei. Aqui em casa eu sei que posso deixar a orquídea no tronco caído, afinal, há a mata aqui do lado e o ciclo irá continuar. Mas se for, por exemplo, em uma casa onde não há muitas árvores, com muito movimento. Sinceramente, neste caso eu a pegaria para tratá-la melhor. Já é uma questão de dó e da pouca probabilidade da planta gerar descendentes. Mas, convenhamos, estes casos são quase nulos. Comigo só aconteceu uma vez, quando na casa de praia de um amigo ele resolveu tirar a única árvore de lá. Não tinha árvores por perto para amarrar novamente a orquídea. Trouxe para casa e ela está lindona aqui. Lá, iria ficar no tronco, seria recolhida pela prefeitura como lixo vegetal e iria acabar em um aterro soterrada.
Bom pessoal, se surgirem novos pontos sobre este tema, estarei postando novamente. Agradeço ao apoio de todos. O incentivo a este trabalho tem me dado muita energia para continuar!
Abraços!