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Pragas e doenças – Lesmas e caracóis

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Ah, quem nunca viu uma lesminha brilhante devorando com vontade uma nova raiz ou pior, um botão floral?

Pois bem, cá estou eu com este problema em casa. E pior, em larga escala. Parece que em todo lugar que olho eu vejo um molusco chato detonando alguma planta minha. Ou seja, hora de agir.

Pesquisei muito sobre o que fazer em casos como este e a conclusão que cheguei é que tudo vai depender daquilo que você tem vontade ou tempo para fazer. No meu caso, devido a quantidade de plantas e ao tempo escasso que tenho para sair catando um por um, fui um pouco mais radical. Mas vamos com calma, vamos conhecer primeiro os causadores do problema.

Lesminha feliz em uma folha de Cattleya

Lesma

As lesmas são moluscos gastrópodes da sub-ordem Stylommatophora, que andam sobre o abdômen e que possuem respiração cutânea. Distinguem-se dos restantes gastrópodes, em particular dos caracóis, pela inexistência de concha externa proeminente. O corpo das lesmas é constituído por manto, pé e cabeça com um par de tentáculos ópticos e um par de tentáculos sensoriais, ambos retrácteis. São bastante sensíveis à desidratação e algumas também são sensíveis à luz. As lesmas são seres hermafroditas. Caracterizam-se pelo fato de que, durante o seu desenvolvimento, a massa visceral sofre uma torção de 180 graus (característica dos moluscos gastrópodes), enrolando-se sobre si mesma. Assim, adotam a forma espiral tão característica da concha dos caracóis.

Caracol

Caracóis são os moluscos gastrópodes terrestres de concha espiralada calcária, pertencentes à subordem Stylommatophora, que também inclui as lesmas. São animais com ampla distribuição ambiental e geográfica. Respiram através de um pulmão. As diversas espécies de caracóis se distinguem especialmente pela concha que é, na verdade, o esqueleto externo do animal. Essa concha é feita de calcário, e pesa pouco mais de um terço do peso total. Os caracóis não tem audição e utilizam especialmente os sentidos do tato e do olfato que se situam em todo o corpo mas principalmente nas antenas menores já que pouco enxergam com os olhos situados nas pontas das antenas maiores. Ao lado da boca fica o aparelho genital e a entrada e saída do ar dos pulmões, o pneumóstoma, que fica embaixo da concha.

É muito comum a confusão entre caramujo e caracol. Na verdade, são animais cuja aparência é muito próxima, mas bem diferentes. O caramujo é um animal aquático e respira por brânquias, enquanto o caracol é um animal terrestre e dotado de um pulmão.

Como combater

Estes animais possuem hábitos noturnos e gostam de ambientes abafados e úmidos. Por serem noturno, temos muita dificuldade para localizá-los. Durante os períodos de incidência de luz, eles costumam se esconder no substrato ou em cantos próximos ao orquidário. Apesar de lentas, fazem um estrago considerável pois são raspadores e se alimentam de raízes, folhas e caule das orquídeas. Tenho observado que o principal dano causado por estes animais é nas raízes. Infelizmente, só percebemos quando a planta já está desidratando e definhando. Neste momento é comum olharmos o vaso com mais atenção e aí notar estes animais no substrato.

Algumas raízes devoradas

Se você tem dúvidas se estes animais estão presentes em seu orquidário, basta olhar se há algum tipo de raspagem ou parte de folha ou raízes comidas. Outra forma é verificar se o famoso rastro brilhante está presente no ambiente, indicando que alguma lesma passou por ali deixando parte de seu muco.

Resultado de apenas uma noite de trabalho das esfomeadas

Muitos são os métodos utilizados para controle destas pragas. Alguns preferem algo 100% natural, outros já preferem métodos químicos. Eu estou testando um moluscicida pois sinceramente não tenho mais como fazer coleta manual.

Ambiente

Dentre as muitas formas de evitar o aparecimento de lesmas é ter um orquidário arejado e protegido. Plantas penduradas, bancadas bem arejadas e com pilares protegidos (com sal, por exemplo), chão de cimento ou com uma cobertura plástica entre a terra e a brita são opções que podem dificultar o aparecimento de infestações. Aliás, o chão do orquidário deve estar limpo, sem mato, afinal, ervas daninhas são hospedeiras intermediárias destas e outras pragas. Entretanto, acredito que o principal aqui é o ambiente arejado, afinal, uma ventilação adequada controla o excesso de umidade, evitando a proliferação destes animais. Por isto, nada de vasos amontoados, ok?

Esta seria a primeira linha de defesa contra estes animais, visto que eles se reproduzem com grande facilidade em meios ricos em matéria orgânica (chão úmido, substratos, etc) por serem hermafroditas (bissexuados) e passam diretamente dos ovos para a fase adulta.

Tenho o problema?

Pode ser que você veja alguns sinais característicos de lesmas em suas orquídeas, como raízes e folhas raspadas. Afinal, como ter certeza se há algum tipo de infestação de lesmas em seu orquidário? Faça armadilhas para elas!

Início da refeição – felizmente evitada

Existem várias formas de preparar armadilhas para estes animais:

  • usando chuchu;
  • estopa umedecida;
  • estopa com cerveja;
  • estopa com uma mistura de uma parte de leite integral para quarto partes de água;
  • bandejas de isopor com cavidades para baixo.

A vantagem de atraí-las é que você poderá realizar a coleta manual, controlando a população de lesmas.

Coleta manual

Alguns dizem que este é o melhor método. Eu prefiro dizer que é o mais natural, pois dependendo do tamanho da sua coleção e do tamanho da infestação, a coleta manual pode ser um trabalho quase impossível. Além das armadilhas descritas acima, uma alternativa ao tedioso método de coleta manual é mergulhar o vaso em um balde com solução de calda de fumo. Desta forma as lemas irão à superfície, sendo facilmente coletados.

Para preparamos esta calda, eis os ingredientes:

  • 100 gramas de fumo de corda;
  • 1 litro de água;
  • uma colher de sabão em coco (pó).

Pique o fumo, junte com os outros ingredientes e ferva. Depois é só coar em um pano fino e diluir em 10 litros de água.

Mergulhando na solução para coleta manual

Depois de coletados, uma forma eficiente de eliminá-los é colocá-los em uma vasilha com uma solução saturada de sal.

Métodos químicos

Aqui a coisa fica um pouco mais séria. Se você realmente tem uma infestação que se faz impossível de ser controlada (ou coletada manualmente), você pode recorrer aos artifícios químicos comumente conhecidos como iscas ou moluscicidas.

Moluscicidas são pesticidas usados no controle de moluscos, como as lesmas e caracóis. Essas substâncias geralmente incluem metaldeído, metiocarbe e sulfato de alumínio, e devem ser usadas com cautela para não causar danos a outros seres que não são alvo de sua aplicação. A maioria dos moluscicidas não são usados na jardinagem e agricultura orgânica pois são proibidos, mas há exceções, como o fosfato férrico.

O fosfato férrico é substância ativa autorizada para agricultura orgânica pelo Ministério da Agricultura e está presente no lesmicida Ferramol Organic, importado da Alemanha. É um produto de venda livre, registrado na ANVISA. O produto age interrompendo a alimentação das pragas que se recolhem em suas tocas e morrem dentro de 2 a 6 dias. Depois de aplicado, o Ferramol tem durabilidade durante vários dias mesmo na ocorrência de chuva, pois apresenta ótima resistência contra umidade. Os grânulos que não forem consumidos serão decompostos, servindo como adubo natural para as plantas.

Outro bastante utilizado é o Metarex. Pertencente à família química de aldeídos, é um tétramere de acetaldeído. O metaldeído presente no lesmicida Metarex SP atua principalmente pela ingestão por destruir as células responsáveis pela produção de muco. Ele é irreversível, provocando uma destruição total do sistema de membrana, a fragmentação dos vacúolos, a destruição das mitocôndrias e do núcleo celular. Por sua natureza tóxica, você deverá ter atenção especial se possuir animais que frequentam o mesmo ambiente das orquídeas. Nestes casos é mais seguro não espalhar as iscas pelo chão do orquidário, apenas nos vasos.

Um dos meus Meterex perdidos por aí

Por fim, existem alguns inseticidas organofosforados como o Malathion também são eficientes em aplicação total no orquidário, mas devem ser evitados ao máximo pela sua alta toxidez ao meio ambiente e aos mamíferos em geral, incluindo nós mesmo.

Plantas moluscicidas

Em minhas pesquisas para a confecção deste artigo me deparei com um artigo muito interessante, dos autores Joana D’Arc Ximenes Alcanfor, Pedro H. Ferri, Suzana C. Santos e José Clecildo B. Bezerra, na Universidade Federal de Goiás.

Resumidamente, o artigo trata de plantas moluscicidas para o controle de caramujos transmissores de doenças, enfatizando na ação química de taninos. Ali você poderá ler sobre algumas plantas que possuem este efeito e, quem sabe, utilizá-las de alguma forma em seu ambiente. Não vou discorrer muito sobre o artigo pois acho que ele vale a leitura como um todo.

Eis o link: Plantas moluscicidas no controle dos caramujos (…), com ênfase na ação de taninos

Resultado de um ataque de lesmas

Referências

  • orquideassemmisterio.blogspot.com.br
  • bworquideas.blogspot.com.br
  • revistas.ufg.br

Orquídeas provenientes de coleta: como identificar

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Se você gosta de orquídeas e as tem em sua casa, certamente já ouviu falar, presenciou ou até comprou plantas oriundas de coletas ilegais nas matas.

Inevitavelmente todos nós acabamos passando por isto, conscientemente ou não, pois muitas vezes confiamos em vendedores e não sabemos a real procedência da planta. Enfim, se você se preocupa com o meio ambiente, informação nunca é demais, então estou disponibilizando um material que há muito tempo tenho aqui guardado comigo e acho muito interessante: um guia de como identificar uma orquídea proveniente de coleta ou de cultivo.

Por que saber isto é importante? Simples, antes de mais nada, clique aqui e leia meu artigo sobre as consequências legais e naturais das coletas ilegais.

Se quiser ver um pouco sobre as orquídeas e seus ambientes naturais, além de um pouco mais sobre a discussão sobre a ilegalidade de coletas e afins, clique aqui!

Se você clicou no link acima e leu o artigo, agora está ciente das consequências legais e ecológicas da coleta de orquídeas em nossas matas. Com estas informações, poderá analisar e tomar a decisão se irá ou não contribuir com esta prática ilegal. Se sua opção for evitar orquídeas coletadas ilegalmente em nossas matas, é hora de saber identificá-las, clicando no link abaixo (é um arquivo no formato PDF gerado pelo IBAMA):

Guia Ilustrado - orquídeas cultivadas X coletadas

Sinceramente, espero que aqueles que dispuseram de alguns minutos para analisar todo material aqui apresentado e foram sensibilizados de alguma forma, passem a serem disseminadores desta tipo de informação. A Natureza agradece.

Referência

  • Ministério do Meio Ambiente

Abraços!

A ecologia da doença

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Há tempos não escrevo por aqui. Meu tempo tem sido escasso, mas quero dar mais atenção ao site. Enfim, enquanto isso, gostaria de compartilhar um texto que, dada a situação que estamos vivendo com o Coronavírus (COVID-19), não poderia ser mais atual. O original está em inglês, foi escrito por Jim Robbins para o The New York Times. O link está no final do artigo. A imagem é de Olaf Hajek.

Vamos ao texto:

Existe um termo que biólogos e economistas usam hoje em dia – serviços ecossistêmicos – que se refere às muitas maneiras pelas quais a natureza apóia o esforço humano. As florestas filtram a água que bebemos, por exemplo, e as aves e as abelhas polinizam as culturas, ambas com valor econômico e biológico substancial.

Se não entendermos e cuidarmos do mundo natural, isso poderá causar um colapso desses sistemas e voltar a nos assombrar de maneiras que pouco sabemos. Um exemplo crítico é um modelo em desenvolvimento de doença infecciosa que mostra que a maioria das epidemias – AIDS, Ebola, Nilo Ocidental, SARS, doença de Lyme e outras centenas que ocorreram nas últimas décadas – não acontecem. Eles são o resultado de coisas que as pessoas fazem com a natureza.

A doença, ao que parece, é em grande parte uma questão ambiental. Sessenta por cento das doenças infecciosas emergentes que afetam os seres humanos são zoonóticas – elas se originam em animais. E mais de dois terços deles são originários da vida selvagem.

Equipes de veterinários e biólogos da conservação estão no meio de um esforço global com médicos e epidemiologistas para entender a “ecologia da doença”. Faz parte de um projeto chamado Predict, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Os especialistas estão tentando descobrir, com base em como as pessoas alteram a paisagem – com uma nova fazenda ou estrada, por exemplo – onde as próximas doenças provavelmente se espalharão para os seres humanos e como identificá-las quando surgirem, antes que possam se espalhar . Eles estão coletando sangue, saliva e outras amostras de espécies selvagens de alto risco para criar uma biblioteca de vírus para que, se alguém infectar seres humanos, possa ser identificado mais rapidamente. E eles estão estudando maneiras de gerenciar florestas, animais selvagens e animais para impedir que doenças deixem a floresta e se tornem a próxima pandemia.

Não é apenas um problema de saúde pública, mas econômico. O Banco Mundial estimou que uma grave pandemia de gripe, por exemplo, poderia custar à economia mundial US$ 3 trilhões.

O problema é exacerbado pela maneira como o gado é mantido nos países pobres, o que pode ampliar doenças transmitidas por animais selvagens. Um estudo divulgado pelo International Livestock Research Institute descobriu que mais de dois milhões de pessoas por ano são mortas por doenças que se espalham para os seres humanos a partir de animais selvagens e domésticos.

O vírus Nipah, no sul da Ásia, e o vírus Hendra, estreitamente relacionado a Austrália, ambos no gênero dos vírus henipah, são os exemplos mais urgentes de como a desorganização de um ecossistema pode causar doenças. Os vírus se originaram de raposas voadoras, Pteropus vampyrus, também conhecidas como morcegos. Eles são comedores bagunçados, não importa pouco neste cenário. Eles costumam ficar de cabeça para baixo, parecendo Drácula enrolados firmemente em suas asas membranosas, e comem frutas mastigando a polpa e cuspindo os sucos e sementes.

Os morcegos evoluíram com o henipah ao longo de milhões de anos e, por causa dessa co-evolução, eles experimentam pouco mais do que o equivalente do resfriado a um morcego. Mas quando o vírus sair dos morcegos e se transformar em espécies que não evoluíram com ele, pode ocorrer um show de horror, como ocorreu em 1999 na zona rural da Malásia. É provável que um morcego jogou um pedaço de fruta mastigada em um porquinho em uma floresta. Os porcos foram infectados com o vírus, amplificaram e saltaram para os seres humanos. Foi surpreendente em sua letalidade. Das 276 pessoas infectadas na Malásia, 106 morreram e muitas outras sofreram distúrbios neurológicos permanentes e incapacitantes. Não há cura ou vacina. Desde então, houve 12 surtos menores no sul da Ásia.

Na Austrália, onde quatro pessoas e dezenas de cavalos morreram de Hendra, o cenário foi diferente: a suburbanização atraiu morcegos infectados que antes moravam na floresta para quintais e pastagens. Se um vírus da henipah evolui para ser transmitido rapidamente através de contatos casuais, a preocupação é que ele possa sair da floresta e se espalhar por toda a Ásia ou o mundo. “Nipah está transbordando e estamos observando esses pequenos grupos de casos – e é questão de tempo que a tensão certa se espalhe e se espalhe eficientemente entre as pessoas”, diz Jonathan Epstein, veterinário da EcoHealth Alliance, de Nova York. organização de base que estuda as causas ecológicas da doença.

É por isso que os especialistas dizem que é fundamental entender as causas subjacentes. “Qualquer doença emergente nos últimos 30 ou 40 anos surgiu como resultado da invasão de terras selvagens e mudanças demográficas”, diz Peter Daszak, ecologista de doenças e presidente da EcoHealth.

As doenças infecciosas emergentes são novos tipos de patógenos ou antigos que sofreram mutações para se tornarem novos, como a gripe todos os anos. A AIDS, por exemplo, infectou os seres humanos a partir dos chimpanzés na década de 1920, quando caçadores de carne na África os mataram e os comeram.

As doenças sempre surgiram na floresta e na vida selvagem e chegaram às populações humanas – a peste e a malária são dois exemplos. Mas as doenças emergentes quadruplicaram no último meio século, dizem os especialistas, em grande parte por causa do aumento da invasão humana no habitat, especialmente nos “pontos quentes” de doenças em todo o mundo, principalmente nas regiões tropicais. E com as viagens aéreas modernas e um mercado robusto no tráfico de vida selvagem, o potencial de um surto grave em grandes centros populacionais é enorme.

A chave para prever e impedir a próxima pandemia, dizem os especialistas, é entender o que eles chamam intactos de “efeitos protetores” da natureza. Na Amazônia, por exemplo, um estudo mostrou um aumento no desmatamento em cerca de 4%, aumentando a incidência de malária em quase 50%, porque os mosquitos que transmitem a doença prosperam na mistura certa de luz solar e água em áreas recentemente desmatadas. Desenvolver a floresta da maneira errada pode ser como abrir a caixa de Pandora. Esses são os tipos de conexões que as novas equipes estão descobrindo.

Os especialistas em saúde pública começaram a incluir a ecologia em seus modelos. A Austrália, por exemplo, anunciou um esforço multimilionário para entender a ecologia do vírus e dos morcegos de Hendra.

Não é apenas a invasão de paisagens tropicais intactas que podem causar doenças. O vírus do Nilo Ocidental chegou aos Estados Unidos da África, mas se espalhou lá porque um de seus anfitriões favoritos é o Tordo-americano, que vive em um mundo de gramados e campos agrícolas. E os mosquitos, que espalham a doença, acham os Tordos especialmente atraentes. “O vírus teve um impacto importante na saúde humana nos Estados Unidos, porque aproveitou as espécies que se saem bem ao redor das pessoas”, diz Marm Kilpatrick, biólogo da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. O papel central do Tordo-americano no Nilo Ocidental ganhou o título de “super espalhador”.

E a doença de Lyme, o flagelo da costa leste, é um produto das mudanças humanas no meio ambiente: a redução e a fragmentação de grandes florestas contíguas. O desenvolvimento perseguiu predadores – lobos, raposas, corujas e falcões. Isso resultou em um aumento de cinco vezes nos camundongos de patas brancas, que são ótimos “reservatórios” para a bactéria Lyme, provavelmente por terem um sistema imunológico deficiente. E eles são péssimos cuidadores. Quando gambás ou esquilos cinzentos se preparam, eles removem 90% dos carrapatos larvais que espalham a doença, enquanto os ratos matam apenas metade. “Portanto, os ratos estão produzindo um grande número de ninfas infectadas”, diz o pesquisador da doença de Lyme, Richard Ostfeld.

“Quando fazemos coisas em um ecossistema que corroem a biodiversidade – cortamos florestas em pedaços ou substituímos habitat por campos agrícolas – tendemos a nos livrar de espécies que desempenham um papel protetor”, disse-me o Dr. Ostfeld. “Existem poucas espécies que são reservatórios e muitas espécies que não são. Os que incentivamos são os que desempenham papéis de reservatório.”

Ostfeld viu duas doenças emergentes – babesiose e anaplasmose – que afetam os seres humanos nos carrapatos que estuda, e ele despertou o alarme sobre a possibilidade de sua propagação.

Os especialistas dizem que a melhor maneira de prevenir o próximo surto em seres humanos é com o que eles chamam de One Health Initiative – um programa mundial, envolvendo mais de 600 cientistas e outros profissionais, que avança a idéia de que a saúde humana, animal e ecológica é inextricavelmente ligados e precisam ser estudados e gerenciados de forma holística.

“Não se trata de manter a floresta intocada intocada e livre de pessoas”, diz Simon Anthony, virologista molecular do Centro de Infecção e Imunidade da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia. “É aprender a fazer as coisas de maneira sustentável. Se você conseguir entender o que é que leva ao surgimento de uma doença, poderá aprender a modificar os ambientes de maneira sustentável. ”

O escopo do problema é enorme e complexo. Apenas 1% dos vírus da vida selvagem são conhecidos. Outro fator importante é a imunologia da vida selvagem, uma ciência em sua infância. Raina K. Plowright, bióloga da Universidade Estadual da Pensilvânia que estuda a ecologia da doença, descobriu que os surtos do vírus Hendra em raposas voadoras em áreas rurais eram raros, mas eram muito mais altos em animais urbanos e suburbanos. Ela supõe que os morcegos urbanizados são sedentários e perdem a exposição frequente ao vírus que costumavam pegar na natureza, o que mantinha a infecção em níveis baixos. Isso significa que mais morcegos – sejam de má nutrição, perda de habitat ou outros fatores – são infectados e lançam mais vírus no quintal.

O destino da próxima pandemia pode estar na obra de Predict. A EcoHealth e seus parceiros – a Universidade da Califórnia em Davis, a Wildlife Conservation Society, a Smithsonian Institution e a Global Viral Forecasting – estão analisando vírus transmitidos pela vida selvagem nos trópicos, construindo uma biblioteca de vírus. A maior parte do trabalho se concentra em primatas, ratos e morcegos, com maior probabilidade de transmitir doenças que afetam as pessoas.

O mais crítico é que os pesquisadores do Predict estão observando a interface onde se sabe que existem vírus mortais e onde as pessoas estão abrindo a floresta, ao longo da nova estrada do Atlântico ao Pacífico, através dos Andes no Brasil e no Peru. “Ao mapear a invasão na floresta, você pode prever onde a próxima doença poderá surgir”, diz Daszak, presidente da EcoHealth. “Então, estamos indo para as margens das aldeias, para lugares onde as minas acabaram de abrir, áreas onde novas estradas estão sendo construídas. Vamos conversar com pessoas que vivem nessas zonas e dizer: ‘o que você está fazendo é potencialmente um risco’ ”.

Isso pode significar conversar com as pessoas sobre como eles abatem e comem carne de animais selvagens ou com aqueles que estão construindo um lote de ração no habitat de morcegos. Em Bangladesh, onde Nipah estourou várias vezes, a doença foi atribuída a morcegos que estavam invadindo contêineres que coletavam seiva de tamareira, que as pessoas bebiam. A fonte da doença foi eliminada colocando telas de bambu (que custavam 8 centavos cada) sobre os coletores.

A EcoHealth também examina bagagens e pacotes nos aeroportos, procurando animais selvagens importados que provavelmente carregam vírus mortais. E eles têm um programa chamado PetWatch para alertar os consumidores sobre animais de estimação exóticos que são retirados da floresta em locais de doenças e enviados ao mercado.

Em suma, o conhecimento adquirido nos últimos anos sobre doenças emergentes deve nos permitir dormir um pouco mais fácil, diz o Dr. Epstein, veterinário da EcoHealth. “Pela primeira vez”, disse ele, “há um esforço coordenado em 20 países para desenvolver um sistema de alerta precoce para surtos zoonóticos emergentes”.

Como vimos no texto, há 8 anos o cenário já era muito complicado. Hoje, estamos vivenciando isso em uma escala global. Nem os esforços para estudar e evitar pandemias funcionam se cada um de nós não fizermos a nossa parte.

Cuide das florestas. Não retire orquídeas das matas. Cuidem-se!

Referência:

Orquídeas ameaçadas de extinção no Brasil

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Estou sempre falando das questões ambientais que envolvem adquirir e manter uma orquídea. No último post, que você pode ler clicando aqui, falei sobre como identificar as orquídeas provenientes da extração ilegal em nossas matas e florestas. Antes, já falei sobre as consequências legais e naturais das coletas ilegais, que você pode ler clicando aqui, e também falei um pouco sobre as orquídeas e seus ambientes naturais, que você também pode ler clicando aqui.

Infelizmente, apesar de leis (se são cumpridas é outra história) e, principalmente, apesar de sermos seres dotados de inteligência, ainda existe em grande escala a extração indiscriminada e ilegal de várias espécies das nossas matas e florestas. A prova disto é o constante fluxo de pessoas que vejo, seja nas redes sociais, seja aqui mesmo no site, que buscam como ter e manter este tipo de plantas.

Novamente, prefiro acreditar que a maioria das vezes é por falta de informação. Se este é o seu caso, leia os posts acima. Se ainda não está convencido, saiba que muitas estão correndo um sério risco de serem extintas. Para ajudar a entender o tamanho do problema, eis a listagem mais atualizada que achei das espécies de orquídeas ameaçadas de extinção em território nacional:

Lista oficial de espécies brasileiras ameaçadas de extinção – Orchidaceae

Clique aqui para ver o documento original da Portaria nº 443, de 17 de dezembro de 2014, do Ministério do Meio Ambiente, que reconhece as espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.

Para facilitar, eis a listagem:

Espécie Risco
Acianthera adiri (Brade) Pridgeon & M.W.Chase CR
Acianthera heringeri (Hoehne) F.Barros CR
Acianthera langeana (Kraenzl.) Pridgeon & M.W.Chase EN
Acianthera papillosa (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase VU
Adamantinia miltonioides van den Berg & C.N.Gonç. CR
AlatiglossumCRoesus (Rchb.f.) Baptista CR
Anathallis colnagoi (Pabst) F.Barros & L.Guimarães CR
Anathallis gehrtii (Hoehne & Schltr.) F.Barros VU
Anathallis pabstii (Garay) Pridgeon & M.W.Chase EN
Anathallis tigridens (Loefgr.) F.Barros & Barberena VU
Baptistonia kautskyi (Pabst) Chiron & V.P.Castro EN
Baptistonia truncata (Pabst) Chiron & V.P.Castro CR
Barbosella trilobata Pabst EN
Bifrenaria silvana V.P.Castro CR
Bifrenaria wittigii (Rchb.f.) Hoehne EN
Bipinnula biplumata (L.f.) Rchb.f. CR
Bipinnula penicillata (Rchb.f.) Cisternas & Salazar EN
Brachionidium restrepioides (Hoehne) Pabst VU
Brachystele camporum (Lindl.) Schltr. VU
BrasilaeliaCRispa (Lindl.) Campacci VU
Brasilaelia grandis (Lindl. & Paxton) Gutfreund VU
Brasilaelia lobata (Lindl.) Gutfreund EN
Brasilaelia perrinii (Lindl.) Campacci VU
Brasilaelia purpurata (Lindl. & Paxton) Campacci VU
Brasilaelia tenebrosa (Rolfe) Campacci EN
Brasilaelia xanthina (Lindl.) Campacci EN
Brasilidium marshallianum (Rchb.f.) Campacci CR
Brasilidium pectorale (Lindl.) Campacci CR
Brasiliorchis schunkeana (Campacci & Kautsky) R.B.Singer et al. EN
Brassia arachnoidea Barb.Rodr. VU
Bulbophyllum arianeae Fraga & E.C.Smidt CR
Bulbophyllum boudetianum Fraga EN
Bulbophyllum kautskyi Toscano VU
Campylocentrum pernambucense Hoehne EN
Catasetum mattosianum Bicalho EN
Cattleya aclandiae Lindl. VU
Cattleya dormaniana Rchb.f. EN
Cattleya granulosa Lindl. VU
Cattleya guttata Lindl. VU
Cattleya harrisoniana Batem. ex Lindl. VU
Cattleya intermedia Grah. VU
Cattleya labiata Lindl. VU
Cattleya porphyroglossa Linden & Rchb.f. CR
Cattleya schilleriana Rchb.f. EN
Cattleya schofieldiana Rchb.f. CR
Cattleya tenuis Campacci & Vedovello EN
Cattleya tigrina A.Rich. VU
Cattleya velutina Rchb.f. VU
Cattleya walkeriana Gardner VU
Cattleya warneri T.Moore VU
Centroglossa castellensis Brade CR
Chloraea membranacea Lindl. EN
Cirrhaea fuscolutea Lindl. EN
Cirrhaea loddigesii Lindl. CR
Cirrhaea longiracemosa Hoehne VU
Cleistes aphylla (Barb.Rodr.) Hoehne EN
Codonorchis canisioi Mansf. CR
Constantia cipoensis Porto & Brade CR
Coppensia macronyx (Rchb.f.) F.Barros & V.T.Rodrigues VU
Coppensia majevskyi (Toscano & V.P.Castro) Campacci EN
Cyclopogon dutrae Schltr. EN
Cycnoches pentadactylum Lindl. EN
Cyrtopodium caiapoense L.C.Menezes VU
Cyrtopodium hatschbachii Pabst EN
Cyrtopodium lamellaticallosum J.A.N.Bat. & Bianch. CR
Cyrtopodium latifolium Bianch. & J.A.N.Bat. CR
Cyrtopodium linearifolium J.A.N.Batista & Bianchetti CR
Cyrtopodium lissochiloides Hoehne & Schltr. VU
Cyrtopodium palmifrons Rchb.f. & Warm. VU
Cyrtopodium poecilum var. roseum Bianch. & J.A.N.Bat. EN
Cyrtopodium triste Rchb.f. & Warm. VU
Dichaea mosenii Cogn. VU
Dryadella auriculigera (Rchb.f.) Luer CR
Dryadella lilliputiana (Cogn.) Luer VU
Dryadella susanae (Pabst) Luer CR
Dungsia harpophylla (Rchb.f.) Chiron & V.P.Castro VU
Dungsia kautskyi (Pabst) Chiron & V.P.Castro CR
Encyclia bragancae Ruschi EN
Epidendrum addae Pabst VU
Epidendrum ecostatum Pabst VU
Epidendrum henschenii Barb.Rodr. EN
Epidendrum robustum Cogn. VU
Epidendrum zappii Pabst EN
Grandiphyllum divaricatum (Lindl.) Docha Neto VU
Grandiphyllum hians (Lindl.) Docha Neto VU
Grobya cipoensis F.Barros & Lourenço CR
Grobya fascifera Rchb.f. VU
Habenaria achalensis Kraenzl. VU
Habenaria brachyplectron Hoehne & Schltr. CR
Habenaria ernestulei Hoehne EN
Habenaria galeandriformis Hoehne CR
Habenaria itaculumia Garay CR
Habenaria novaesii Edwall & Hoehne CR
Habenaria piraquarensis Hoehne EN
Hadrolaelia alaori (Brieger & Bicalho) Chiron & V.P.Castro CR
Hadrolaelia brevipedunculata (Cogn.) Chiron & V.P.Castro VU
Hadrolaelia jongheana (Rchb.f.) Chiron & V.P.Castro EN
Hadrolaelia pumila (Hook.) Chiron & V.P.Castro VU
Hadrolaelia pygmaea (Pabst) Chiron & V.P.Castro EN
Hadrolaelia sincorana (Schltr.) Chiron & V.P.Castro EN
Hadrolaelia wittigiana (Barb.Rodr.) Chiron & V.P.Castro EN
Hoehneella heloisae Ruschi CR
Hoffmannseggella briegeri (Blumensch. ex Pabst) V.P.Castro & Chiron EN
Hoffmannseggella caulescens (Lindl.) H.G.Jones EN
Hoffmannseggella endsfeldzii (Pabst) V.P.Castro & Chiron CR
Hoffmannseggella ghillanyi (Pabst) H.G.Jones EN
Hoffmannseggella gloedeniana (Hoehne) Chiron & V.P.Castro CR
Hoffmannseggella kautskyana V.P.Castro & Chiron CR
Hoffmannseggella milleri (Blumensch. ex Pabst) V.P.Castro & Chiron CR
Hoffmannseggella mixta (Hoehne) Chiron & V.P.Castro EN
Hoffmannseggella munchowiana (F.E.L.Miranda) V.P.Castro & Chiron CR
Houlletia brocklehurstiana Lindl. EN
Isabelia virginalis Barb.Rodr. VU
Lophiaris schwambachiae (V.P.Castro & Toscano) Braem VU
Malaxis jaraguae (Hoehne & Schltr.) Pabst VU
Masdevallia discoidea Luer & Würstle CR
Miltonia kayasimae Pabst CR
Myoxanthus ruschii Fraga & L.Kollmann CR
Myoxanthus seidelii (Pabst) Luer CR
Neogardneria murrayana (Gardner ex Hook.) Schltr. EN
Notylia microchila Cogn. EN
Octomeria alexandri Schltr. EN
Octomeria chamaeleptotes Rchb.f. VU
Octomeria geraensis Barb.Rodr. VU
Octomeria hatschbachii Schltr. VU
Octomeria hoehnei Schltr. EN
Octomeria lichenicola Barb.Rodr. EN
Octomeria truncicola Barb.Rodr. VU
Octomeria wawrae Rchb.f. EN
Octomeria wilsoniana Hoehne CR
Pabstia jugosa (Lindl.) Garay EN
Pabstia schunkiana V.P.Castro CR
Pabstiella bacillaris (Pabst) Luer EN
Pabstiella carinifera (Barb.Rodr.) Luer VU
Pabstiella castellensis (Brade) Luer CR
Pabstiella conspersa (Hoehne) Luer EN
Pabstiella garayi (Pabst) Luer CR
Pabstiella lingua (Lindl.) Luer EN
Pabstiella ruschii (Hoehne) Luer CR
Phragmipedium vittatum (Vell.) Rolfe VU
Phymatidium geiselii Ruschi EN
Phymatidium glaziovii Toscano VU
Phymatidium vogelii Pabst VU
Polystachya rupicola Brade CR
Pseudolaelia brejetubensis M.Frey CR
Pseudolaelia canaanensis (Ruschi) F.Barros VU
Pseudolaelia cipoensis Pabst CR
Pseudolaelia citrina Pabst EN
Pseudolaelia dutrae Ruschi VU
Pteroglossa hilariana (Cogn.) Garay EN
Rauhiella silvana Toscano EN
Sarcoglottis alexandri Schltr. ex Mansf. EN
Saundersia mirabilis Rchb.f. EN
Saundersia paniculata Brade VU
Scuticaria irwiniana Pabst EN
Scuticaria itirapinensis Pabst CR
Scuticaria kautskyi Pabst CR
Scuticaria strictifolia Hoehne EN
Specklinia gomesferreirae (Pabst) Luer CR
Stigmatosema hatschbachii (Pabst) Garay CR
Thelyschista ghillanyi (Pabst) Garay VU
Thysanoglossa jordanensis Porto & Brade EN
Trichopilia santoslimae Brade CR
Vanilla dietschiana Edwall VU
Vanilla dubia Hoehne EN
Zygopetalum pabstii Toscano EN
Zygostates kuhlmannii Brade EN
Zygostates linearisepala (Senghas) Toscano CR

Legenda: Extintas na Natureza (EW), Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU)

Referências

  • ibama.gov.br
  • orquidecampos

Abraços!

O fascinante mundo dos Bulbophyllum

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Bulbophyllum (abreviação Bulb.) é o maior gênero de orquídeas. Com predominância nas Américas (na faixa tropical), África e Ásia. Somente em Papua Nova Guiné ocorrem mais de 500 espécies. Existem cerca de 2500 a 3000 espécies registradas, fora centenas de híbridos criados pelo homem.

São em sua maioria são epífitas, isto é, vegetam em arvores para se desenvolverem sem tirar nutrientes da mesma. Os Bulbophyllum brasileiros vegetam em sua maioria como epífitas e rupicolas, ou seja, vegetam em rochas (veja o artigo sobre orquídeas epífitas clicando aqui e sobre orquídeas rupícolas clicando aqui).

Origem do nome

A palavra Bulbophyllum procede da latinização das palavras gregas: βολβος, que significa “bulbo”, “tubérculo”, “raiz carnuda”; e φύλλον, que significa “folha”, aludindo à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, que tinha folhas grossas. O termo foi criado em 1822 por Thouars.

Quem foi Thouars?

Louis-Marie Aubert Du Petit-Thouars que foi um grande botânico francês. Nasceu em Boumois dia 5 de novembro de 1758 e faleceu em Paris dia 11 de maio de 1831.

Louis-Marie Aubert Du Petit-Thouars

  • Thouars veio de uma família aristocrática da região de Anjou (ou Anju – uma antiga província francesa correspondendo à atual região de Maine-et-Loire). Cresceu no “Castelo de Boumois“, perto de Saumur;
  • Em 1792, após uma prisão de dois anos durante a revolução francesa, ele foi para o exílio em Madagascar e ilhas vizinhas. Ele recolheu muitos espécimes em Madagáscar, Maurício (em francês, Mauritius, país a leste de Madagascar), e nas ilhas Reunião (em francês, îles de la Réunion) – grato pela correção, Marina. Dez anos mais tarde, volta para França, com 2.000 plantas. Grande parte de sua coleção foi para o Museu de Paris, enquanto algumas estavam em Kew (Royal Botanic Gardens, Kew Reino Unido – Inglaterra);
  • Em 10 de abril de 1820 foi eleito membro da Académie des Sciences;
  • Ele foi um pioneiro em botânica com trabalhos e descrevendo as orquídeas da região: 52 espécies provenientes da Mauritânia e 55 de La Réunion;
  • No ano de 1822 é lançado o livro Histoire Particulière des Plantes Orchidées, abreviado Hist. Orchid., onde é descrito o Phyllorkis thouars (atualmente Bulbophyllum nutans).

Bulbophyllum nutans – fonte: orchidspecies.com

Bulbophyllum nutans – fonte: orchidspecies.com

Como reconhecer um Bulbophyllum?

  1. Bulbos ovoides, alguns raramente achatados, outros cilíndricos;
  2. Frequentemente apresentam rizoma bastante longo crescendo de forma desordenada com bulbos bem espaçados;
  3. Seu aspecto é bastante desarrumado e muitas espécies apresentam crescimento cespitoso (termo botânico que se refere ao modo como algumas plantas crescem lançando novos brotos ou caules de maneira aglomerada, geralmente formando uma touceira ou espesso tapete);
  4. Em geral são unifoliadas, saindo folhas na base superior do bulbo. Existem bifoliadas e ainda folhas teres (cilíndricas), Ex.: Bulbophyllum rupiculum;
  5. As flores tem o labelo móvel, que se movimenta com qualquer brisa, assim facilitando a polinização principalmente em flores menores.

Bulbophyllum rupiculum

Dimensões

Há uma grande variação de cor, tamanho e na forma das flores e das plantas. As folhas de alguns Bulbophyllum podem medir apenas alguns centímetros, como o Bulbophyllum moniliforme.

Bulbophyllum moniliforme

Já outros podem apresentar folhas com mais de um metro como o Bulbophyllum fletcherianum.

Bulbophyllum fletcherianum

A dimensão das flores varia de milímetros à 40 centímetros. Em algumas espécies, a flor é solitária. Em outras, a haste floral tem forma de uma mini espiga. Por fim, há aquelas cuja haste termina em forma de “leque”.

Seções

Devido a grande quantidade de espécies que o gênero abriga, os Bulbophyllum são divididos em 78 seções. Cada seção abriga grupo de Bulbophyllum com características similares para facilitar o seu estudo e entender melhor a grande riqueza de variedades que existe.

Sestochilus

A seção Sestochilus é uma das mais chamativas e discutidas das seções. Neste grupo os Bulbophyllum têm bulbos de bom porte em rizomas rastejantes de uma folha por bulbo e quase sempre uma flor, raramente duas ou três por inflorescência. Alguns exemplos:

Bulbophyllum lobbii – Foto e cultivo: Marcelo Invernizzi

Bulbophyllum coweniorum

Bulbophyllum uniflorum – foto e cultivo: Marcelo Invernizzi

Cirrhopetalioides

A seção Cirrhopetalioides apresenta plantas com uma folha por bulbo. Suas flores são unidas a um ponto central de sua haste lembrando um guarda chuva ou um leque. Por exemplo:

Bulbophyllum longissimum

Bulbophyllum lepidum

Bulbophyllum medusae

Megaclinium

Na seção Megaclinium, a haste floral lembra uma vagem ou até mesmo a forma espiral do modelo usado para representar a forma do DNA. Por exemplo:

Bulbophyllum falcatum – foto da internet

Bulbophyllum purpureorachis – foto da internet

Aroma

Outra característica marcante dos Bulbophyllum quando floridos é o odor de carne putrefata. A razão disto é simples: sobrevivência. As mal cheirosas, como o Bulbophyllum basisetum, Bulbophyllum phalaenopsis, Bulbophyllum echinolabium, habitam locais onde não existem pássaros ou insetos como abelhas polinizá-las. Para se multiplicarem, a solução encontrada pela natureza foi desenvolver um odor que atraíssem moscas que se alimentam de carne morta.

Bulbophyllum echinolabium

Bulbophyllum phalaenopsis

Bulbophyllum basisetum – foto da intenet

Embora sejam poucos, existem os inodoros, como o Bulbophyllum crassipes.

Bulbophyllum crassipes

Por fim, há os perfumados, como o Bulbophyllum lilacinum e seu agradável aroma de maçã, o Bulbophyllum ambrosea com cheiro de mel, o Bulbophyllum elassonotum com o aroma de de azeite e o híbrido Bulbophyllum Kalimpongum, com perfume de bagaço de cana.

Bulbophyllum Kalimpongum

Bulbophyllum lilacinum

Bulbophyllum ambrosia

Bulbophyllum elassonotum

Híbridos

A produção de híbridos artificiais de orquídeas vem ocorrendo há mais de um século. Estima-se que sejam hoje mais de cem mil híbridos. A Royal Horticultural Society é responsável pelo registro oficial de híbridos, no entanto, a produção doméstica e por pequenos produtores locais é bastante grande e só pequena parte destes híbridos caseiros é registrada, de modo que o número total de híbridos já produzidos pelo homem permanecerá sempre apenas uma suposição. De acordo com as regras do Código Internacional de Nomenclatura de Plantas Cultivadas, os híbridos de espécies de um mesmo gênero são sempre classificados com nomes pertencentes ao mesmo gênero – Roberto Martins.

Existem cerca de 200 Bulbophyllum híbridos registrados. Alguns deles podem florescer inúmeras vezes no mesmo ano. Alguns exemplos:

Bulbophyllum Sunshine Queen ‘Orange’ (mastersianum x corolliferum)

Bulbophyllum Cindy Dukes (rothschildianum x putidum)

Bulbophyllum Emily Siegerist (Elizabeth Ann x lasiochilum)

Bulbophyllum Fascination (fascinator x longissimum)

(guttulatum x rothschildianum)

Bulbulbophyllum Krairit Vejvarut (longissimum x phalaenopsis) – foto e cultivo: Marcelo Invernizzi

Bulbophyllum Louis Sander (longissimum x ornatissimum)

Bulbophyllum Meen Garuda (lasiochilum x echinolabium)

Bulbophyllum Nudda (longissimum x putidum)

Bulbophyllum S. y N. Ignis Draconis = Dragão de Fogo (Emily Siegerist x putidum) Hibrido registrado em 2014 na Argentina – foto da internet

No próximo artigo da série sobre Bulbophyllum, compartilharei com vocês algumas dicas de cultivo. Abraços!

Orquídeas do mato (3) – conscientize-se

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Bom, eis a hora de voltar a um assunto que nem todos aqui gostam.

Com as mudanças do site e os problemas que tive nos últimos dias, acabei me deparando com algumas coisas interessantes no Google. Sim, o Google é muito útil para analisarmos as fontes de visitas que tenho, bem como as palavras chave que acabaram convergindo neste site.

Aí me deparei com uma coisa um pouco preocupante: muitas pessoas procurando informações sobre orquídeas do mato ou orquídeas coletadas.

Mas Luis, por que isto é ruim?

Simples, meu amigo. O que está me assustando é o que as pessoas estão buscando na internet sobre as “orquídeas do mato”. Vejamos os dados da última semana:

– 28 pessoas chegaram com a palavra chave “orquídeas do mato” e suas variantes (como orkideas e orquidias);
– 4 pessoas chegaram com “fotos de orquídeas do mato”;

Estas são as pesquisas boas, ou pelo menos acredito que sejam. Entretanto, há algumas pesquisas mais suspeitas, como (copiadas do analytics, com erros e tudo mais):

– “como cuidar de orquídeas do mato”;
– “onde achar orquídeas no mato”;
– “como identificar muda de orquideas no meio do mato”;
– “como identificar uma orquidea no mato”
– “como plantar orquidea do mato”;
– “orquideas do mato compar” (comprar);
– “orquideas pequenas do mato”;
– “para que eh bom a orquidea do mato”;
– “tipos de orquideas do mato”;
– “especies de orquideas do mato”;
– “encontra orquidea no mato”;
– “mato para pegar oorquideas” – sobrou um o ali;
– “minhas orquideas do mato”;
– “orkidias do mato da região do para”;
– “orquidea do mato mais comum”;
– “orquideas de mato em minas”;
– “orquideas são as mesmas que dão em arvores no mato”;
– “plantas orquideas do mato”;
– “tem orquideas no mato”;
e a mais legal:
– “www.orquideas do mato.com.br”;

Parace pouco, mas não é. As pesquisas acima somam mais de 150 pessoas chegando ao site do orquideas.eco.br nos meses de junho e julho, o que me faz parar para pensar duas coisas: primeiro, como a internet emburreceu as pessoas – poxa, escrevem tudo errado! Isso que deixei as piores palavras de fora para não mostrar de que tipo de “orkidia” nós estamos falando.

Ok, desabafo feito, hora de voltar ao assunto. Um blog despretensioso como o meu não deveria ter tanta palavra chave sobre reconhecimento, coleta, locais, cuidados e afins de orquídeas do mato. Sim, publiquei um texto no começo do ano sobre isto, as pessoas acabam caindo aqui quando procuram pelo tema. Mas o teor destas palavras chave me assusta. A maioria quer saber como cuidar daquilo que coletou, onde coletar ou comprar mudas, o que fazer quando acha estas pobres plantas na mata, enfim, tudo que já falei algumas vezes aqui: não faça!

Você que está lendo este texto e se encaixa no perfil de aventureiro destemido, que sai a procura de plantas no meio do mato? Sim, você mesmo! Use cinco minutos do seu tempo e leia os textos abaixo que já voltamos a conversar:

Orquídeas do mato – texto principal, aborda a questão da legalidade e também das consequências
Orquídeas do mato (2) – complemento ao primeiro texto

Entendeu agora? Não é simplesmente retirar uma planta do mato e achar que conseguiu algo a mais na sua coleção. É uma questão de bom senso, é uma questão de consciência ecológica.

Ainda dá tempo de mudar. Nunca escondi que no começo cheguei a coletar plantas no mato. Mas aprendi a lição, e você?

Legado das Águas

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Há alguns meses vivi uma experiência diferente no Legado das Águas e gostaria de compartilhá-la com vocês por causa de um motivo muito nobre: conscientização e conservação. Em maio de 2017, participei de um evento teste em um local chamado Legado das Águas, situado na Reserva Votorantim, Tapiraí, São Paulo. O evento era um workshop sobre orquídeas, ministrado pelo Biólogo Luciano Zandoná.

Bom, antes de mais nada, este texto é sobre muitas coisas, menos sobre o workshop sobre orquídeas. Prefiro pensar que este é um relato de uma pessoa acostumada com a cidade grande que, mesmo vivendo em um local com muitas plantas, queria passar por uma experiência diferente das vividas no dia a dia.

Estava eu de férias, querendo bater perna por algum local onde pudesse respirar um pouco daquele viciante ar de floresta. A oportunidade surgiu com uma postagem que por acaso vi no Facebook sobre o tal do workshop. Olhei no mapa, vi a distância e me animei: não era muito longe para uma viagem de final de semana, apenas uns 300 km de Curitiba.

Inscrição feita, deparei-me com o primeiro problema. O workshop começava no sábado cedo. Para chegar no sábado cedinho, teria que sair muito cedo de Curitiba, afinal, seria uma viagem de pelo menos 4 horas. Questionei os organizadores sobre a oportunidade de ir na sexta à tarde e fui prontamente atendido. Foi então que pensei: “Bacana, duas noites no meio do nada ao invés de uma!”. Claro que o desconhecido faz nossa imaginação aflorar e pensei de tudo um pouco, afinal, estamos falando de um local que realmente fica incrustado no meio de um restinho de Serra do Mar, mas estava muito animado com a experiência.

Enfim, peguei a estrada seguindo as direções que me passaram, imaginando chegar no final da tarde de sexta no local. De certa forma, meu cálculo foi correto, cheguei à reserva no final da tarde. O que errei foi o fato que, uma vez dentro da reserva, eu teria que andar mais 40km em estrada de pedra/terra até à base do Legado das Águas. Claro que isto não seria problema nenhum, mas a Mãe Natureza resolveu me desafiar a colocou uma tempestade ameaçadora se aproximando no horizonte. Tempestade, noite, estrada de chão, meio da floresta: pensei que não seria uma boa me perder ali logo no meu primeiro dia. Fui em frente, torcendo para chegar antes da tempestade.

No fim, deu tudo certo. Foi extremamente prazeroso andar no meio da mata, passando por rios, represas – foram 4 no caminho à base. Em todas você passa por pontes que te dão uma visão bem ampla das barragens. O caminho passa por algumas vilas que abrigam os funcionários – e suas famílias – das usinas quando estão em serviço no local. Tudo simples mas muito organizado. A estrada é boa e mais uma coisa me chamou a atenção: a sinalização. Por todo o caminho há placas avisando da presença de antas na região. Porém, algumas placas são pretas, com a imagem de uma anta branca. Na hora não entendi o motivo, mas depois veio a explicação: há uma anta albina no parque. Nada mais justo que a sinalização indique isso, oras!

Enfim, 40km depois, cheguei à base, estacionei o carro, entrei no alojamento para procurar o pessoal e BUM!, eis que a tempestade desabou com força. Em poucos minutos acabou a energia. A situação de isolamento e quietude, além da momentânea ausência de energia, resultou em uma sensação de paz que não lembro de ter sentido anteriormente. É uma situação que a grande parte das pessoas não está acostumada. Hoje somos bombardeados por todo tipo de estímulos modernos, principalmente eletrônicos. Estar no meio da Serra do Mar, contemplando a mata e a montanha, observando e escutando a chuva, respirando um ar muito mais puro, faz muito bem. E assim fiquei até a hora de me recolher ao alojamento, sem antes provar uma jantinha mais do que caprichada que já estava pronta no refeitório quando cheguei.

No dia seguinte acordei cedo, antes dos demais, e fiquei zanzando pela base. A sensação ao andar ali, em meio a mata, com a luz do dia, é indescritível. A mesma sensação de paz que tive na noite anterior é acrescida de outra difícil de explicar, mas que remete muito ao sentido de nossa existência. É impossível ficar indiferente àquilo e não pensar na vida como um todo, e no sentido de tudo. A amplitude da natureza nos faz perceber o quão pequenos somos, sensação essa que não sentimos, ou pelo menos eu não consigo sentir, mesmo estando na selva de pedra da cidade. Confesso que bate uma vontade de largar tudo e viver em meio à natureza, infelizmente interrompida pela razão e o fato que tenho responsabilidades que não posso abrir mão.

Minha primeira parada foi ao lado do refeitório, onde os passarinhos faziam a festa comendo as frutas colocadas ali para eles. Fotografei, filmei, observei e apreciei o espetáculo. Continuei minha caminhada e fui ao complexo de estufas onde os pesquisadores fazem a reprodução de mudas de espécies locais para reintrodução na natureza. Tudo muito organizado, que me fez ter vergonha do meu pobre orquidário em casa. Em uma das estruturas há um telhado verde, onde várias espécies estão plantadas e contribuem para a neutralização dos efeitos da construção abaixo, além de deixar o ambiente dentro dela muito mais agradável. Ao lado do complexo de estufas está um dos focos de meu interesse: o orquidário do local. Uma estrutura muito bem bolada, bastante úmida, onde várias espécies de orquídeas repousam como objeto de estudo ou aguardando reintegração na mata. Um espetáculo! Não fiquei muito por ali, afinal, não sabia até onde poderia explorar sem supervisão.

Voltei ao alojamento e, após um belo café da manhã, andei mais um pouco pelo Legado em busca de alguns participantes perdidos no caminho. Por fim, voltamos à base, conheci todos os participantes do workshop e lá fomos nós para o evento em questão. Como disse, o foco deste texto não é o workshop em si, mas não posso deixar de comentar o quão proveitoso foi. Ouvir as experiências de quem convive diariamente com orquídeas, lutando por sua preservação, é uma grande lição de vida. Enfim, para resumir, é claro que a parte teórica da coisa valeu muito. Além do material exposto em sala, fizemos um passeio pelas instalações e pude ver com mais detalhes aquilo que havia sondado logo cedo pela manhã, desde o viveiro de mudas até o orquidário.

Na hora do almoço, mais uma bela refeição. Em seguida, voltamos às atividades do workshop. Após mais uma parte teórica, novamente fomos ao orquidário e tivemos uma aula in loco sobre as plantas, além de uma análise sobre o mal que a retirada indiscriminada das plantas de nossas florestas ocasiona em nossos biomas. Além disso, pudemos aprender bastante sobre a reserva em si, como é feita a conservação do local, como são direcionados os estudos ali na reserva, como é feita a interação entre natureza e os humanos que ali habitam. Uma aula sensacional de consciência e conservação, além de respeito à natureza e sua magnitude.

Jantei, conversei um pouco com o pessoal e me recolhi para dormir. Na minha mente já havia um plano: acordar mais cedo e filmar a passarinhada que logo cedo se deliciava com as frutas que ficavam próximas à cozinha. Dito e feito, acordei cedinho, ainda com aquela névoa de serra pairando no ar, posicionei a câmera e deixei a natureza fazer sua parte. O resultado é este:

O dia seguinte foi voltado ao deslumbre das belezas naturais do local. Ao contrário do dia anterior, que alternou entre períodos nublados e de chuva, o domingo estava com um sol esplendoroso. Aproveitei para conhecer um ponto muito interessante do Legado, a Trilha Poço do Cambuci. A trilha é destinada à observação de animais e plantas, sendo que após cerca de 800 metros visitante encontrará um pequeno poço de captação de água. Na trilha é possível ver uma grande variedade de orquídeas, além dos rastros das antas que habitam o complexo. Para tornar a visita mais interessante, havia a missão de replantar algumas orquídeas resgatadas no parque. Dei sorte, pude fazer o ciclo completo: achei uma árvore caída com uma e pude realocá-la em uma árvore próximo ao local onde ela estava originalmente.

Aqui, abro um parênteses para um detalhe que faz toda diferença: os sons da natureza. A variedade de sons proveniente da mata era imensa e, ao mesmo tempo, relaxante. Soma-se a isso o oxigênio limpo que estava respirando e temos uma provável definição da palavra paraíso.

Almocei e fui para a última parte da aventura: um passeio de barco pelo rio Juquiá. Não esperava por esta parte da aventura e curti bastante. Descemos até o rio e após uma breve explicação de segurança, lá fomos nós. O intuito ali era ver a mata intocada e suas árvores centenárias (e gigantescas). Claro que foi possível ver orquídeas no caminho, além de vários animais. Mas o grande barato foi realmente o passeio. A imensidão do rio naquele ponto por causa da represa logo adiante nos faz pensar na imensidão dos elementos na natureza e como somos pequenos neste imenso universo. A reflexão é profunda e prazerosa. Terminamos o passeio em uma pequena cachoeira, mas não entramos no rio porque naquele momento já estava novamente nublado e chuvoso.

Voltamos à base e aí já era o momento de dizer adeus. Depois de dois dias de muito aprendizado e contato com a natureza, era hora de partir. Algo certamente havia mudado em mim após aquela experiência, apesar de, no momento, não saber ao certo o que era. Peguei novamente os 40km de estrada até a rodovia e fui pensando. No caminho, parei em uma das represas para registrar algumas fotos. Novamente o Sol estava presente, a tarde estava linda. Aquele ar, aquela paz, aquela vista. Não queria sair dali. Mas fui em frente. Saí da reserva e pouco antes de Juquiá a natureza ainda me presenteou com uma composição e cores que há tempos não via, um belo entardecer com a Lua já visível de dia.

Fui para casa satisfeito. E mais, estava tentado a ajudar de alguma forma no projeto do Legado. Ainda não sei como nem quando, mas certamente vou querer ajudar de alguma forma a conservação deste pedaço de paraíso.

Se quiser saber mais sobre o local, acesse legadodasaguas.com.br

Abraços!

Calda bordalesa: fungicida caseiro

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Algumas regiões do Brasil estão sofrendo bastante com chuvas e a consequência disto é o aumento de doenças em nossos orquidários. Algumas destas doenças são tratadas com fungicidas, conforme visto em outros artigos aqui no site. Entretanto, pessoas comuns tem dificuldade em adquirir fungicidas (e outros produtos do gênero) em lojas especializadas justamente por serem pessoas físicas não ligadas ao meio rural. Pensando nisto, compartilho com vocês uma receita de fungicida caseiro bastante eficiente que pode ajudar você naquelas horas em que o problema aperta e você não sabe o que fazer.

Histórico

Originária de Bordeaux, região da França, a calda bordalesa é datada do século XIX por uma descoberta acidental do botânico Pierre Marie Alexis Millardet. Millardet notou que alguns vinhedos locais não apresentavam debilitações por fungos. Questionando os agricultores, estes revelaram já usar a calda porém com o intuito único de amargar o sabor das uvas para ninguém furtá-las. A partir daí, Millardet promoveu pesquisas e publicou, em 1885, recomendação da fórmula aperfeiçoada para o combate de doenças por fungos.

Tratamento

A mistura atua por meio dos íons de Cobre (Cu2+). Estes íons afetam as enzimas dos esporos do fungo de tal forma que impede o seu desenvolvimento. Sendo assim, a calda bordalesa deveria ser usada preventivamente antes do estabelecimento de doenças fúngicas.

Recomenda-se o uso com cautela, evitando-se abusos nas quantidades. Na realidade cada espécie de planta apresenta uma sensibilidade e necessidade específica de concentração desse preparado. Contudo, como regra genérica, a fórmula apresentada neste artigo é indicada para a maioria das plantas adultas, enquanto no caso de mudas ou brotações recomenda-se diluir essa mistura a 50% com água.

Utilizando um bom pulverizador, o ideal é aplicar o produto em dia ensolarado, borrifando a planta inteiramente. Afim de evitar o entupimento do pulverizador, pode-se filtrar a calda.

A calda tende a oxidar e por isso deve ser aplicada em no máximo 24 horas para melhor eficácia e repetido 15 dias depois para melhor eficácia.

Para um melhor resultado, existindo plantas já infectadas por fungos, estas deverão ser podadas antes da pulverização. Lembre-se de usar ferramentas esterilizadas e eliminar (incinerar) as partes destacada

Importante: cuidados com a calda

O sulfato de cobre desequilibra o ambiente através da lixiviação (processo de extração de uma substância de um meio sólido por meio de sua dissolução) do solo. Com isso o cobre tende a se acumular danosamente na terra.

O excesso desta calda polui os rios, prejudica os peixes e criações de animais. Ela extermina por completo as minhocas no solo, que são benéficas em qualquer cultivo saudável e imprescindíveis na agricultura orgânica.

A calda bordalesa é um produto com certo grau de toxidade. Desta forma, frutas, sementes, folhas, etc. que foram tratadas com esse preparado devem ser evitados e não ingeridos. Embora seja de baixa volatilidade, ela pode produzir irritações na pele e mucosas quando em contato direto com o corpo. Sendo assim, como na maioria das aplicações de produtos agrícolas, durante sua manipulação é necessário seguir procedimentos padrões de segurança. Ou seja, deve-se usar trajes apropriados e cuidados como luvas impermeáveis, máscaras de proteção e botas de borracha.

Como fazer a calda

Ingredientes:

  • 10 gramas de cal virgem (prefira cal virgem, pois a cal hidratada não tem a eficiência necessária, sendo necessário dobrar a quantidade);
  • 10 gramas de sulfato de cobre em pó;
  • 1 litro de água;
  • Vasilhames de plástico, vidro ou louça, ou seja, não metálico. Não pode ser de lata, latão ou alumínio, por reagir com o cobre.

Caso queira quantidades maiores, é só multiplicar as quantidade.

Sulfato de Cobre

Modo de preparo

  1. Coloque o sulfato de cobre em um saco de pano poroso e deixe imerso em meio litro de água (pode ser morna) por 24 horas. Desta forma ocorrerá a completa dissolução dos cristais, pois um dia representa um tempo seguro para a diluição para a maioria das condições.
  2. Em outro recipiente é feita a reação da cal com pequenas quantidades de água. À medida que a cal “queima” segue-se adicionando água até o outro meio litro do total da receita.
  3. Em um terceiro recipiente, unir os dois preparados acrescentando aos poucos a mistura de sulfato de cobre à solução de cal, misturando vigorosamente com um utensílio não metálico. Importante: não coloque a solução de cal sobre a de sulfato de cobre, pois há o risco de empelotar, perdendo a eficácia.

Neste ponto a calda bordalesa estará pronta para uso. Entretanto, é importante verificar se a mistura está neutra ou, de preferência, levemente alcalina para evitar a fitotoxicidade provocada pelo sulfato de cobre livre. A forma mais fácil de verificar, sem precisar usar medidores de pH como o papel de Tornassol, é improvisar uma checagem da acidez através de um objeto metálico, como uma faca de aço. Para tal, mergulhe a faca por 2 ou 3 minutos no preparado. Se a faca escurecer, isto indica acidez excessiva. Neste caso seria necessário elevar o pH, adicionando-se mais mistura de cal à calda. Se a faca não escurecer, a mistura está pronta!

Eis um vídeo sobre o assunto:

Referências

  • wikipedia.org
  • emater.mg.gov.br
  • portaldojardim.com
  • cpra.pr.gov.br
  • jardimdasideias.com.br

Abraços!

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