Bulbophyllum (abreviação Bulb.) é o maior gênero de orquídeas. Com predominância nas Américas (na faixa tropical), África e Ásia. Somente em Papua Nova Guiné ocorrem mais de 500 espécies. Existem cerca de 2500 a 3000 espécies registradas, fora centenas de híbridos criados pelo homem.

São em sua maioria são epífitas, isto é, vegetam em arvores para se desenvolverem sem tirar nutrientes da mesma. Os Bulbophyllum brasileiros vegetam em sua maioria como epífitas e rupicolas, ou seja, vegetam em rochas (veja o artigo sobre orquídeas epífitas clicando aqui e sobre orquídeas rupícolas clicando aqui).

Origem do nome

A palavra Bulbophyllum procede da latinização das palavras gregas: βολβος, que significa “bulbo”, “tubérculo”, “raiz carnuda”; e φύλλον, que significa “folha”, aludindo à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, que tinha folhas grossas. O termo foi criado em 1822 por Thouars.

Quem foi Thouars?

Louis-Marie Aubert Du Petit-Thouars que foi um grande botânico francês. Nasceu em Boumois dia 5 de novembro de 1758 e faleceu em Paris dia 11 de maio de 1831.

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Louis-Marie Aubert Du Petit-Thouars
  • Thouars veio de uma família aristocrática da região de Anjou (ou Anju – uma antiga província francesa correspondendo à atual região de Maine-et-Loire). Cresceu no “Castelo de Boumois“, perto de Saumur;
  • Em 1792, após uma prisão de dois anos durante a revolução francesa, ele foi para o exílio em Madagascar e ilhas vizinhas. Ele recolheu muitos espécimes em Madagáscar, Maurício (em francês, Mauritius, país a leste de Madagascar), e nas ilhas Reunião (em francês, îles de la Réunion) – grato pela correção, Marina. Dez anos mais tarde, volta para França, com 2.000 plantas. Grande parte de sua coleção foi para o Museu de Paris, enquanto algumas estavam em Kew (Royal Botanic Gardens, Kew Reino Unido – Inglaterra);
  • Em 10 de abril de 1820 foi eleito membro da Académie des Sciences;
  • Ele foi um pioneiro em botânica com trabalhos e descrevendo as orquídeas da região: 52 espécies provenientes da Mauritânia e 55 de La Réunion;
  • No ano de 1822 é lançado o livro Histoire Particulière des Plantes Orchidées, abreviado Hist. Orchid., onde é descrito o Phyllorkis thouars (atualmente Bulbophyllum nutans).
Bulbophyllum nutans – fonte: orchidspecies.com
Bulbophyllum nutans – fonte: orchidspecies.com

Como reconhecer um Bulbophyllum?

  1. Bulbos ovoides, alguns raramente achatados, outros cilíndricos;
  2. Frequentemente apresentam rizoma bastante longo crescendo de forma desordenada com bulbos bem espaçados;
  3. Seu aspecto é bastante desarrumado e muitas espécies apresentam crescimento cespitoso (termo botânico que se refere ao modo como algumas plantas crescem lançando novos brotos ou caules de maneira aglomerada, geralmente formando uma touceira ou espesso tapete);
  4. Em geral são unifoliadas, saindo folhas na base superior do bulbo. Existem bifoliadas e ainda folhas teres (cilíndricas), Ex.: Bulbophyllum rupiculum;
  5. As flores tem o labelo móvel, que se movimenta com qualquer brisa, assim facilitando a polinização principalmente em flores menores.
Bulbophyllum rupiculum

Dimensões

Há uma grande variação de cor, tamanho e na forma das flores e das plantas. As folhas de alguns Bulbophyllum podem medir apenas alguns centímetros, como o Bulbophyllum moniliforme.

Bulbophyllum moniliforme

Já outros podem apresentar folhas com mais de um metro como o Bulbophyllum fletcherianum.

Bulbophyllum fletcherianum

A dimensão das flores varia de milímetros à 40 centímetros. Em algumas espécies, a flor é solitária. Em outras, a haste floral tem forma de uma mini espiga. Por fim, há aquelas cuja haste termina em forma de “leque”.

Seções

Devido a grande quantidade de espécies que o gênero abriga, os Bulbophyllum são divididos em 78 seções. Cada seção abriga grupo de Bulbophyllum com características similares para facilitar o seu estudo e entender melhor a grande riqueza de variedades que existe.

Sestochilus

A seção Sestochilus é uma das mais chamativas e discutidas das seções. Neste grupo os Bulbophyllum têm bulbos de bom porte em rizomas rastejantes de uma folha por bulbo e quase sempre uma flor, raramente duas ou três por inflorescência. Alguns exemplos:

Bulbophyllum lobbii – Foto e cultivo: Marcelo Invernizzi
Bulbophyllum coweniorum
Bulbophyllum uniflorum – foto e cultivo: Marcelo Invernizzi

Cirrhopetalioides

A seção Cirrhopetalioides apresenta plantas com uma folha por bulbo. Suas flores são unidas a um ponto central de sua haste lembrando um guarda chuva ou um leque. Por exemplo:

Bulbophyllum longissimum
Bulbophyllum lepidum
Bulbophyllum medusae

Megaclinium

Na seção Megaclinium, a haste floral lembra uma vagem ou até mesmo a forma espiral do modelo usado para representar a forma do DNA. Por exemplo:

Bulbophyllum falcatum – foto da internet
Bulbophyllum purpureorachis – foto da internet

Aroma

Outra característica marcante dos Bulbophyllum quando floridos é o odor de carne putrefata. A razão disto é simples: sobrevivência. As mal cheirosas, como o Bulbophyllum basisetum, Bulbophyllum phalaenopsis, Bulbophyllum echinolabium, habitam locais onde não existem pássaros ou insetos como abelhas polinizá-las. Para se multiplicarem, a solução encontrada pela natureza foi desenvolver um odor que atraíssem moscas que se alimentam de carne morta.

Bulbophyllum echinolabium
Bulbophyllum phalaenopsis
Bulbophyllum basisetum – foto da intenet

Embora sejam poucos, existem os inodoros, como o Bulbophyllum crassipes.

Bulbophyllum crassipes

Por fim, há os perfumados, como o Bulbophyllum lilacinum e seu agradável aroma de maçã, o Bulbophyllum ambrosea com cheiro de mel, o Bulbophyllum elassonotum com o aroma de de azeite e o híbrido Bulbophyllum Kalimpongum, com perfume de bagaço de cana.

Bulbophyllum Kalimpongum
Bulbophyllum lilacinum
Bulbophyllum ambrosia
Bulbophyllum elassonotum

Híbridos

A produção de híbridos artificiais de orquídeas vem ocorrendo há mais de um século. Estima-se que sejam hoje mais de cem mil híbridos. A Royal Horticultural Society é responsável pelo registro oficial de híbridos, no entanto, a produção doméstica e por pequenos produtores locais é bastante grande e só pequena parte destes híbridos caseiros é registrada, de modo que o número total de híbridos já produzidos pelo homem permanecerá sempre apenas uma suposição. De acordo com as regras do Código Internacional de Nomenclatura de Plantas Cultivadas, os híbridos de espécies de um mesmo gênero são sempre classificados com nomes pertencentes ao mesmo gênero – Roberto Martins.

Existem cerca de 200 Bulbophyllum híbridos registrados. Alguns deles podem florescer inúmeras vezes no mesmo ano. Alguns exemplos:

Bulbophyllum Sunshine Queen ‘Orange’ (mastersianum x corolliferum)
Bulbophyllum Cindy Dukes (rothschildianum x putidum)
Bulbophyllum Emily Siegerist (Elizabeth Ann x lasiochilum)
Bulbophyllum Fascination (fascinator x longissimum)
(guttulatum x rothschildianum)
Bulbulbophyllum Krairit Vejvarut (longissimum x phalaenopsis) – foto e cultivo: Marcelo Invernizzi
Bulbophyllum Louis Sander (longissimum x ornatissimum)
Bulbophyllum Meen Garuda (lasiochilum x echinolabium)
Bulbophyllum Nudda (longissimum x putidum)
Bulbophyllum S. y N. Ignis Draconis = Dragão de Fogo (Emily Siegerist x putidum) Hibrido registrado em 2014 na Argentina – foto da internet

No próximo artigo da série sobre Bulbophyllum, compartilharei com vocês algumas dicas de cultivo. Abraços!

8 COMENTÁRIOS

  1. Olá Luis… como noutros momentos, ler um artigo como este é recompensador; percebemos que você escreve com um único interesse: fornecer informações úteis para os leitores desta página! E isto é gratificante e digno de aplausos, parabéns!
    Este ano eu apenas iniciei a aquisição dos três primeiros bulbophyllum para a minha modesta coleção e um deles, o que foi adquirido adulto, já floriu, uma maravilha!
    Grande abraço!

    • Olá meu amigo!

      Agradeço as belas palavras, mas neste caso tenho que ser justo, este artigo foi escrito pelo meu amigo Luan Almeida, aficionado por Bulbophyllum!

      Aliás, aconselho trocar uma ideia com ele, já que você está iniciando no cultivo. Esta semana vou publicar a segunda parte do artigo dele, com dicas de cultivo. Acho que você vai achar interessante.

      O link para contato dele está na parte do autor do artigo.

      Abraços

  2. Olá, Luis, parei aqui no seu site por curiosidade (estava pesquisando sobre orquídeas para aprender a cuidar melhor das minhas).

    Gostei do artigo do Luan, mas identifiquei um erro no texto: ele diz que Thouars coletou espécies da Mauritânia e de La Réunion. Típico erro de tradução.

    A Mauritânia é um país desértico, 90% ocupado pelo Saara – nunca teve orquídeas! Na verdade o Thouars esteve em Maurício (em francês, Mauritius), que é um país a leste de Madagascar, e nas ilhas Reunião (em francês, îles de la Réunion).

    Por gentileza, corrija o equívoco e avise seu colega pra ser mais cuidadoso. Quem não é tradutor tem que checar as coisas pra não repassar informação errada.

    • Oi Marina, muito obrigado por ajudar! Já efetuei a correção do texto.

      Artigos escritor por amigos eu não tenho como validar algumas coisas e, por não conhecer mesmo, passa batido. Até nos artigos que eu uso como fonte e traduzo sai bobagem, então o negócio é corrigir sempre que possível.

      Mais uma vez, grato pela ajuda!

  3. Oi Luis e Luan.

    Muito informativo e interessante a matéria, parabéns. Estou começando no cultivo de orquídeas, com 140 espécies atualmente, sendo 9 Bulbophylum e estou muito impressionado com a beleza exótica desta espécie. Muito boas as dicas.

    Muito obrigado, e novamente, parabéns pelo belo trabalho.

    • Oi Daniel

      Obrigado pelos elogios. 140 espécies já é um bom plantel, muito bom! Bulbophyllum é mais a praia do Luan, tenho poucos em casa (uns 25 talvez). Mas concordo contigo, são espetaculares.

      Abraços

  4. Infelizmente a maioria dos bulbophylluns apresentados não são nativas do Brasil. As flores dos bulbophyllons nativos não são tão vistosos, mas mereceriam também atenção, apresentando pelo menos os mais comuns.

    • Olá, V!

      Não tiro sua razão sobre plantas nativas. Por outro lado, as plantas apresentadas são comumente achadas à venda no orquidários, muito mais que qualquer espécie nacional. E, mais ainda, dificilmente veríamos espécies nacionais que não tivessem sido coletadas criminosamente em nossas matas. E, mais ainda, é um artigo sobre o cultivo da planta e não sobre plantas nativas, ou seja, não vejo propósito em mostrar apenas plantas daqui.

      Contudo, assim como dei espaço ao Luan para escrever sobre os Bulbophyllum da forma que ele escreveu, também o convido a escrever sobre Bulbophyllum nativamente Brasileiros. Seria um prazer apresentar estas plantas aqui no site. Se tiver interesse em colaborar, me avise!

      Abraços.

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