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Louva-a-deus orquídea

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Em seu relato das peregrinações no Oriente 1879, o escritor de viagens James Hingston descreve como, no oeste de Java, ele passou por uma experiência bizarra:

“Estou no jardim, contemplando várias plantas e, entre outras coisas, uma flor, uma orquídea vermelha. Eis que ela captura e se alimenta de uma mosca viva. Em seguida, ela apoderou-se uma borboleta enquanto eu ainda estava presente, fechando-a em suas folhas bonitas mas mortais, como uma aranha teria envolvida-a em uma rede.”

Louva-a-deus orquídea: Hymenopus coronatus frupus, CC BY-NC

O que Hingston tinha visto não era uma orquídea carnívora, como ele pensava. Mas a realidade não é menos estranha ou fascinante. Ele tinha visto – e foi enganado por – um louva-a-deus orquídea, Hymenopus coronatus, não uma planta, mas sim um inseto.

O louva-a-deus orquídea já é conhecido há mais de 100 anos. Naturalistas famosos, como Alfred Russell Wallace, têm especulado sobre sua aparência extraordinária. Evitando o verde monótono ou marrom da maioria dos louva-a-deus, o Louva-a-deus orquídea é resplandecente em branco e rosa. As partes superiores das suas pernas são muito achatadas e são em forma de coração, parecendo com pétalas. Em uma folha seria altamente visível, mas quando sentado sobre uma flor, é extremamente difícil de ver. Nas fotos, o mantis aparece dentro ou ao lado de uma flor, desafiando sua identificação.

orquideas.eco.br - Louva-a-deus orquídea
Louva-a-deus orquídea

Mimetismo?

Esta é uma história evolucionária clássica e temos a pergunta a responder: o louva-a-deus orquídea evoluiu para imitar a flor – o que lhe permite esconder entre suas pétalas, alimentando-se de insetos que são atraídos por ela? O mimetismo por predadores é bem conhecido. Por exemplo, aranhas caranguejo camuflam-sem de acordo com a flor que estão, e podem mudar de amarelo para branco para combinar com sua flor hospedeira.

Infelizmente, não houve nenhuma evidência para apoiar esta hipótese. O louva-a-deus orquídea são raros, por isso o seu comportamento é pouco conhecido, exceto em cativeiro. Por exemplo, ninguém sabe exatamente qual flor ele supostamente imita.

Louva-a-deus orquídea

Novos estudos apontam que o que temos imaginado estava errado todo esse tempo. Embora seja de fato um mímico de flor – o primeiro animal conhecido a fazer isso – o louva-a-deus orquídea não se esconde em uma orquídea. Aliás, ele não esconde nada. E para um inseto qualquer, ele nem sequer se parece como uma orquídea.

Uma atração fatal

O’Hanlon e seus colegas começaram a testar sistematicamente as idéias contidas dentro da visão tradicional do modus operandi dos louva-a-deus orquídea. Primeiro, eles testaram se eles realmente se camuflavam entre as flores ou se, alternativamente, atraiam insetos por conta própria. Para um inseto em busca da flor, como previsto, o padrão de cor mantis é indistinguível da maioria das flores comuns. No entanto, quando emparelhado ao lado da flor mais comum de seu habitat, os insetos aproximaram-se mais frequentemente do louva-a-deus orquídea do que das flores, mostrando que os louva-a-deus orquídea são atraentes para os insetos por si só, ao invés de simplesmente precisar se camuflar entre as flores.

Podemos observar claramente insetos, como abelhas, divergindo de suas rotas de voo e voar diretamente para este predador enganador“, segundo O’Hanlon. “Esses bichos são maravilhosos para esse tipo de atividade, porque podemos observar uma interação dinâmica entre predadores e presas.

Louva-a-deus orquídea

Este fenômeno, conhecido como mimetismo agressivo, ocorre em outros animais. Por exemplo, há uma aranha que libera substâncias químicas que imitam os feromônios sexuais liberados por mariposas fêmeas que procuram um companheiro. Mariposas do sexo masculino, com suas antenas elaboradas e emplumadas, pode detectar esses feromônios há milhas de distância, e são atraídas para a sua morte.

Os pesquisadores também avaliaram onde o louva-a-deus orquídea escolhia para sentar. Surpreendentemente, eles não escolhiam se esconder entre as flores. Eles escolheram outros locais, como as folhas, com a mesma frequência. No entanto, sentado perto das flores trouxe benefícios, porque os insetos foram atraídos para a vizinhança – o “efeito imã“.

Qualquer flor afinal?

Quando compararam a forma e cor do louva-a-deus orquídea com flores a partir da perspectiva de um inseto, o predador não se parecia com uma orquídea ou mesmo qualquer espécie particular de flor, mas sim uma flor generalizada. Isso se encaixa com o que já sabemos: alguns dos melhores imitadores na natureza são imitadores imperfeitos, com características de diversas espécies como modelo.

Colocando modelos experimentais plásticos em campo, os pesquisadores descobriram que para o louva-a-deus orquídea a cor era muito mais importante do que a forma. Eles acreditam que o louva-a-deus orquídea não pode realmente imitar precisamente um determinado tipo de flor. Em vez disso, eles podem explorar uma brecha criada por ganhos de eficiência evolutivas dentro do cérebro do inseto.

Louva-a-deus orquídea

Conclusões precipitadas

Entretanto, ainda há um problema que persiste: se o louva-a-deus orquídea pode atrair insetos por exploração sensorial sozinho então por que as partes do corpo que se parecem com pétalas? Talvez os polinizadores eram inicialmente atraídos a uma certa distância através da exploração sensorial, mas depois o mimetismo caía por terra quando o inseto estava mais próximo, quando podem inspecionar o louva-a-deus orquídea mais de perto para ver o que realmente é.

O importante é que cada espécie tem uma história emocionante para contar e pode ajudar a moldar a nossa compreensão de como o mundo natural funciona.

Referência

  • theconversation.com

Abraços!

Como preparar calda de fumo

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Existem várias receitas de calda de fumo por aí, bastando você escolher uma e testá-la. Vou colocar duas aqui que, embora um pouco diferentes, deverá ter o mesmo resultado. Deverá ser pulverizada em toda a planta por dias seguidos, até o total extermínio da praga em questão. No fim deixo outro vídeo mostrando mais uma forma de fazer a calda de fumo. O objetivo é o mesmo, combater percevejos, besouros, pulgões e cochonilhas.

Calda de fumo – receita sem álcool

Ingredientes

  • 1 litro de água;
  • 10 centímetros de fumo de rolo, ralado;
  • ½ sabão em barra, ralado.

Modo de preparo

Faça um macerado com todos os ingredientes e deixe-o descansar por 24 horas. Com a calda resultante, pulverize suas plantas. O sabão é usado para facilitar a permanência da água de fumo nas folhas e caules. Pulverize sobre as plantas.

Calda de fumo – receita com álcool

Ingredientes

  • 250 g de fumo de corda;
  • 100 ml de álcool hidratado (comum);
  • 1 litro de água fervente;
  • detergente comum.

Modo de preparo

Pique o fumo de corda e coloque-o em uma vasilha com tampa. Acrescente a água fervente e tampe, deixando a mistura em repouso por 24 horas. Depois disso, agite o conteúdo e filtre-o em pano fino espremendo bem para retirar o máximo de extrato. Acrescente o álcool, que servirá de conservante para a solução. Guarde-a em um frasco escuro. Para o tratamento das plantas infestadas, dilua 100 ml da solução de fumo em 1 litro de água. Acrescente dez gotas de detergente caseiro (para quebrar a tensão superficial da água) e pulverize sobre as plantas.

Vídeo sobre o preparo da calda de fumo

Não vou entrar no mérito se é bom ou não usar a calda de fumo em suas plantas, mas caso você queira saber mais, é interessante ler o artigo de Rosana Kunst, sobre o lado ruim de se usar a calda de fumo. É só clicar aqui.

Referências

  • greenme.com.br
  • comofazerhorta.com.br

Abraços!

O nascer de uma orquídea

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Sei que muitos amigos que acessam este site ainda não tiveram a experiência de ver como uma orquídea nasce e se desenvolve. Aquilo que vemos nas prateleiras das lojas é o resultado de um longo processo, que normalmente começa anos antes.

Uma simples Cattleya híbrida, tão comum nos pontos de venda, leva cerca de cinco anos para chegar à sua primeira floração e, logicamente, ser exposta para venda.

Talvez em função de não conhecer isto, muitas vezes as pessoas não entendem porque determinadas plantas são tão caras e aí acontece o erro, quando optam por comprar plantas de origem ilegal ou duvidosa.

Bom, o objetivo deste post não é falar sobre a ilegalidade na compra de espécies nativas coletas em nossas matas. Para tal, aconselho a leitura deste artigo (clique aqui). As consequências da coleta ilegal podem ser vistas neste artigo (clique aqui). Por fim, caso você queira evitar este tipo de comércio, saiba como identificar uma orquídea proveniente de nossas matas lendo este artigo (clique aqui).

Hoje, o objetivo é ser breve e mostrar a simplicidade e a beleza de algo que é incomum em nossas casas: a germinação de uma orquídea ao natural. Talvez você até tenha visto aqueles frascos com inúmeras mudas de orquídeas, hoje muito vendidos em grupos espalhados pelo Facebook, mas já viu uma germinando espontaneamente em, por exemplo, algum vaso em sua casa? Se não, veja a foto abaixo:

Germinação in natura

A beleza deste momento fica mais intensa se considerarmos que as sementes das orquídeas são muito pequenas e desprovidas de qualquer reserva nutritiva na natureza. Assim, para germinarem, dependem da associação de fungos micorrízicos, sendo que para cada grupo de orquídeas as espécie do fungo varia. E o resultado é este:

Detalhe para a nova raiz, timidamente saindo da base.
Esta está um pouco maior, aproveitando bem a madeira velha
Outro ângulo da anterior.

Quem dera fosse mais fácil germinar estas maravilhas. Em tempo: não se deixe enganar pelas sementes vendidas por aí. Elas não são o que parecem. Clique aqui e leia o artigo onde mostro estas falcatruas e instrua seus amigos para que ninguém mais caia neste tipo de golpe.

Referência

  • Orquídeas Sem Mistério

Abraços!

Como eu faço as plaquinhas de identificação das minhas orquídeas

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Aproveitando as perguntas que recebi recentemente sobre como faço as plaquinhas de identificação de minhas orquídeas, eis um vídeo mostrando o que uso e como faço.

Materiais necessários:

  • Rotuladora;
  • Abraçadeira;
  • Tesoura.

Com isto, você terá uma plaquinha de identificação duradoura, resistente ao tempo, Sol e chuva, além de ser muito mais legível do que uma escrita à mão.

Também escrevi há algum tempo atrás um artigo sobre isto, que você pode ler aqui!

Abração!

Orquídeas do mato: o seu habitat natural

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Fiquei surpreso com algumas pessoas que comentaram que nunca tinham visto orquídeas no mato. Ok, isto não é problema algum. Antes de eu me interessar realmente pelas orquídeas elas passavam desapercebidas mesmo. Resolvi escrever um segundo post sobre este tema para mostrar um exemplo urbano, retirado hoje, ao lado de minha casa. Fora isto, vou escrever algumas palavras sobre algumas questões foram levantas no blog e no Facebook.

Antes de mais nada, vamos fazer uma incursão ao terreno ao lado de minha casa. O cenário é mais ou menos o seguinte: moro em Curitiba, perto da avenida de maior movimento da cidade. Entre nós está um pequeno córrego e um terreno com mata ainda nativa. Resumindo, é um pedaço de mata ao lado do maior fluxo de movimento automotivo da cidade. Aliás, agradeço a esta mata por estar aqui. Ela filtra quase todo ruído da avenida.

Vamos começar. Esta foto é do local. Na verdade, existem dois terrenos, um de cada lado da rua. Um grande, com quase 70 metros de frente, e este, com uns 15, que dá direto para o córrego. Vamos ver o que tem nele…

Se vocês notarem, há uma planta no centro da foto, daquelas que usamos as folhas para brincar de espadas com os amigos quando crianças. Eis o que ela nos reserva:

Sim, Gomesas. Gomesa recurva, para ser preciso. Sempre depois da florada (final do ano), temos vários pontos com esta plantinha brotado. Outro exemplo? Este é no quintal de casa, em uma goiabeira:

Entrando um pouco no mato, vemos as plantas mais antigas, provavelmente as mães destas pequenas mudas:

Bacana, não?

E tem mais:

Eurystyles actinosophila

Campylocentrum aromaticum

Acianthera

Acianthera sonderana

Isto sem contar as outras que não achei… sei que ali tem uma muda de Barbosella, algumas Leptotes, Pleurobotryum… mas estas não achei para fotografar hoje. A mata está mais fechada e não rolou entrar muito (cobras, sabe como é).

Viram só, talvez prestando mais atenção todos nós podemos achar alguma coisinha bacana em meio ao mundaréu de concreto que vivemos. Imaginem só o que podemos achar nas matas nativas.

Agora atenção! O maior presente que podemos dar ao nosso planeta é preservar isto, não retirando nada do lugar, deixando a natureza fluir seu curso com o menor número possível de danos causados pelo homem. Acho que o maior barato disto é observar, fotografar, refletir. Existem muitos grupos de pessoas que apenas fotografam orquídeas, sabia? Por não poderem ter em casa, fotografam tudo que podem para ter uma lembrança. É só procurar, por exemplo, no Flickr.

Ok, após este momento de exposição, algumas questões que foram levantadas na discussão do post anterior e que valem um comentário:

Recolocação de plantas nas matas

Como disse no outro post sobre o assunto, é uma coisa que demanda cuidado. Repetindo minhas próprias palavras, a reintrodução de espécies exóticas (não nativas da região) pode causar sérios danos à flora local. Imaginem o cenário: você coloca em uma floresta um híbrido lindão. Nesta floresta existem Cattleyas ameaçadas de extinção. Seu híbrido começa a se desenvolver rapidamente, afinal, é um melhoramento genético das Cattleyas nativas. Talvez até daquela que está ali, ameaçada. Após alguns anos as duas espécies começam a competir por recursos e o híbrido é mais forte, se sobrepõe à espécie nativa. Pronto, fim da história, mais uma espécie extinta.

Sementes

Também vale o mesmo raciocínio que fiz no outro post. As orquídeas são plantas exigentes e especializadas e, consequentemente, sofrem com as interferências nas florestas primitivas. Elas possuem frutos em forma de cápsulas, capazes de armazenar, cada uma, até três milhões de sementes. As sementes não possuem reservas (endospermas) e só germinam ao encontrar ambiente propício. Assim, quando a cápsula explode, a matriz ‘aposta’ em muitas possibilidades, na expectativa de que pelo menos algumas caiam em um local ideal e uma nova planta germine. Vejam por exemplo os exemplos das Gomesas que coloquei acima. Se as sementes das Gomesas que tem ao lado de casa tivessem uma taxa de germinação levemente notável, as árvores aqui do lado teriam milhares de mudas. Não é o que acontece. Moro aqui há três anos e só vi até hoje estas pequenas que fotografei. Claro, há mais, mas não contem com uma população muito maior do que 10 ou 15 indivíduos.

Queimadas

Sim, perdemos muito com as queimadas. Uma pequena área queimada infelizmente elimina tudo da região. Mas também temos que lembrar que a natureza é sábia e, parafraseando Ian Malcolm no filme Jurassic Park, “a natureza sempre encontra um caminho“.

Orquídeas em troncos caídos

Aqui são dois pesos para a mesma moeda. Se o tronco estiver na mata, deixe a orquídea lá. Faz parte do ecossistema e da tal natureza. Ela sabe o que faz. Ali no chão ela estará encerrando seu ciclo, mas ainda poderá florir e semear a região. Já em troncos urbanos, em um lugar que não tem mais nada ao redor a não ser a selva de concreto, sinceramente não sei. Aqui em casa eu sei que posso deixar a orquídea no tronco caído, afinal, há a mata aqui do lado e o ciclo irá continuar. Mas se for, por exemplo, em uma casa onde não há muitas árvores, com muito movimento. Sinceramente, neste caso eu a pegaria para tratá-la melhor. Já é uma questão de dó e da pouca probabilidade da planta gerar descendentes. Mas, convenhamos, estes casos são quase nulos. Comigo só aconteceu uma vez, quando na casa de praia de um amigo ele resolveu tirar a única árvore de lá. Não tinha árvores por perto para amarrar novamente a orquídea. Trouxe para casa e ela está lindona aqui. Lá, iria ficar no tronco, seria recolhida pela prefeitura como lixo vegetal e iria acabar em um aterro soterrada.

Bom pessoal, se surgirem novos pontos sobre este tema, estarei postando novamente. Agradeço ao apoio de todos. O incentivo a este trabalho tem me dado muita energia para continuar!

Abraços!

Substratos para orquídeas – Xaxim e sua proibição

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Xaxim

Desde que comecei neste hobby, grande parte da discussão acalorada parte do substrato, mais especificamente o xaxim.

Xaxim, segundo a Wikipedia, é um feto arborescente, da família das dicksoniáceas, nativo da Mata Atlântica e América Central (especialmente dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Possui cáudice ereto, cilíndrico, e frondes bipenadas de até 2 metros. Devido à extração desenfreada do cáudice para uso no cultivo de outras plantas, a espécie está ameaçada de extinção e sua extração está proibida em todo o Brasil. Também é conhecido pelos nomes de samambaiaçu e samambaiaçu-imperial.

Lembro-me do dia que postei em um forum a imagem de uma planta em uma placa de xaxim e algum espertinho resolveu encrencar com isto. Pronto, iniciou-se uma discussão em que nenhuma das partes teriam razão no final. Antes de mais nada: eu uso, não nego. Não compro, não extraio. Mas uso. Uso aquilo que tenho em casa há mais ou menos 30 anos. Havia alguns sacos com pedaços de xaxim guardados em casa e hoje tenho aproveitado para colocar algumas orquídeas neles.

Mas um dia meu estoque vai acabar, terei que procurar fontes alternativas de substratos e tutores para minhas plantas. E tenho testado alguns. Ainda não gostei de nenhum, para falar a verdade. Mas tenho testado. Por exemplo, não tenho planta que sobreviva em fibra de coco. Parece praga, é só colocar no coco que a planta definha. Acho que o xaxim me acostumou mal.

Antes de mais nada, precisamos entender porque a extração do xaxim está proibida. A Dicksonia sellowiana (xaxim) é uma planta de crescimento lento. Muito lento. Se você acha que suas orquídeas têm um crescimento lento, o xaxim é pior. O xaxim leva de 50 a 100 anos para atingir um metro de altura. Some isto ao fato que houve um período de extração desenfreada. Pronto, quase não há mais xaxim em nossas matas.

Hoje existem leis municipais e federais (Resolução CONAMA n.º 278 de 24 de maio de 2001) impedindo a extração de espécies ameaçadas de extinção. Aliás, existe uma lei internacional sobre isto, mas não vou me aprofundar em leis desta vez. A questão é que o xaxim, assim como outras espécies ameaçadas em nossa Mata Atlântica, estão protegidas por lei e precisamos pensar nas alternativas a isto.

Para procurarmos alternativas, temos que entender porque o xaxim é tão bom para as orquídeas. O xaxim retém uma quantidade ideal de água, nem muito nem pouca. É capaz de liberar lentamente nutrientes para as plantas. Facilita a fixação e a areação da raízes. Complicado bater uma coisa com tantas qualidades? Talvez não, é o que veremos daqui para frente nesta série de artigos sobre substratos.

Referências

  • mma.gov.br
  • auepaisagismo.com
  • wikipedia.org

Abraços!

Camuflagem e as orquídeas – Bifrenaria aureofulva

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Fotografei há pouco minha Bifrenaria aureofulva e, ao “revelar” as fotos, notei uma coisa muito interessante: camuflagem!

Olhe atentamente a imagem. Se for necessário, clique na mesma que ela abrirá em um tamanho maior.

Bifrenaria aureofulva

Você, amigo deste blog, consegue achar o pulgão nesta flor?

E se eu disser que há vários ali?

A Mãe Natureza é fantástica, não?

Abraços!

Legado das Águas

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Há alguns meses vivi uma experiência diferente no Legado das Águas e gostaria de compartilhá-la com vocês por causa de um motivo muito nobre: conscientização e conservação. Em maio de 2017, participei de um evento teste em um local chamado Legado das Águas, situado na Reserva Votorantim, Tapiraí, São Paulo. O evento era um workshop sobre orquídeas, ministrado pelo Biólogo Luciano Zandoná.

Bom, antes de mais nada, este texto é sobre muitas coisas, menos sobre o workshop sobre orquídeas. Prefiro pensar que este é um relato de uma pessoa acostumada com a cidade grande que, mesmo vivendo em um local com muitas plantas, queria passar por uma experiência diferente das vividas no dia a dia.

Estava eu de férias, querendo bater perna por algum local onde pudesse respirar um pouco daquele viciante ar de floresta. A oportunidade surgiu com uma postagem que por acaso vi no Facebook sobre o tal do workshop. Olhei no mapa, vi a distância e me animei: não era muito longe para uma viagem de final de semana, apenas uns 300 km de Curitiba.

Inscrição feita, deparei-me com o primeiro problema. O workshop começava no sábado cedo. Para chegar no sábado cedinho, teria que sair muito cedo de Curitiba, afinal, seria uma viagem de pelo menos 4 horas. Questionei os organizadores sobre a oportunidade de ir na sexta à tarde e fui prontamente atendido. Foi então que pensei: “Bacana, duas noites no meio do nada ao invés de uma!”. Claro que o desconhecido faz nossa imaginação aflorar e pensei de tudo um pouco, afinal, estamos falando de um local que realmente fica incrustado no meio de um restinho de Serra do Mar, mas estava muito animado com a experiência.

Enfim, peguei a estrada seguindo as direções que me passaram, imaginando chegar no final da tarde de sexta no local. De certa forma, meu cálculo foi correto, cheguei à reserva no final da tarde. O que errei foi o fato que, uma vez dentro da reserva, eu teria que andar mais 40km em estrada de pedra/terra até à base do Legado das Águas. Claro que isto não seria problema nenhum, mas a Mãe Natureza resolveu me desafiar a colocou uma tempestade ameaçadora se aproximando no horizonte. Tempestade, noite, estrada de chão, meio da floresta: pensei que não seria uma boa me perder ali logo no meu primeiro dia. Fui em frente, torcendo para chegar antes da tempestade.

No fim, deu tudo certo. Foi extremamente prazeroso andar no meio da mata, passando por rios, represas – foram 4 no caminho à base. Em todas você passa por pontes que te dão uma visão bem ampla das barragens. O caminho passa por algumas vilas que abrigam os funcionários – e suas famílias – das usinas quando estão em serviço no local. Tudo simples mas muito organizado. A estrada é boa e mais uma coisa me chamou a atenção: a sinalização. Por todo o caminho há placas avisando da presença de antas na região. Porém, algumas placas são pretas, com a imagem de uma anta branca. Na hora não entendi o motivo, mas depois veio a explicação: há uma anta albina no parque. Nada mais justo que a sinalização indique isso, oras!

Enfim, 40km depois, cheguei à base, estacionei o carro, entrei no alojamento para procurar o pessoal e BUM!, eis que a tempestade desabou com força. Em poucos minutos acabou a energia. A situação de isolamento e quietude, além da momentânea ausência de energia, resultou em uma sensação de paz que não lembro de ter sentido anteriormente. É uma situação que a grande parte das pessoas não está acostumada. Hoje somos bombardeados por todo tipo de estímulos modernos, principalmente eletrônicos. Estar no meio da Serra do Mar, contemplando a mata e a montanha, observando e escutando a chuva, respirando um ar muito mais puro, faz muito bem. E assim fiquei até a hora de me recolher ao alojamento, sem antes provar uma jantinha mais do que caprichada que já estava pronta no refeitório quando cheguei.

No dia seguinte acordei cedo, antes dos demais, e fiquei zanzando pela base. A sensação ao andar ali, em meio a mata, com a luz do dia, é indescritível. A mesma sensação de paz que tive na noite anterior é acrescida de outra difícil de explicar, mas que remete muito ao sentido de nossa existência. É impossível ficar indiferente àquilo e não pensar na vida como um todo, e no sentido de tudo. A amplitude da natureza nos faz perceber o quão pequenos somos, sensação essa que não sentimos, ou pelo menos eu não consigo sentir, mesmo estando na selva de pedra da cidade. Confesso que bate uma vontade de largar tudo e viver em meio à natureza, infelizmente interrompida pela razão e o fato que tenho responsabilidades que não posso abrir mão.

Minha primeira parada foi ao lado do refeitório, onde os passarinhos faziam a festa comendo as frutas colocadas ali para eles. Fotografei, filmei, observei e apreciei o espetáculo. Continuei minha caminhada e fui ao complexo de estufas onde os pesquisadores fazem a reprodução de mudas de espécies locais para reintrodução na natureza. Tudo muito organizado, que me fez ter vergonha do meu pobre orquidário em casa. Em uma das estruturas há um telhado verde, onde várias espécies estão plantadas e contribuem para a neutralização dos efeitos da construção abaixo, além de deixar o ambiente dentro dela muito mais agradável. Ao lado do complexo de estufas está um dos focos de meu interesse: o orquidário do local. Uma estrutura muito bem bolada, bastante úmida, onde várias espécies de orquídeas repousam como objeto de estudo ou aguardando reintegração na mata. Um espetáculo! Não fiquei muito por ali, afinal, não sabia até onde poderia explorar sem supervisão.

Voltei ao alojamento e, após um belo café da manhã, andei mais um pouco pelo Legado em busca de alguns participantes perdidos no caminho. Por fim, voltamos à base, conheci todos os participantes do workshop e lá fomos nós para o evento em questão. Como disse, o foco deste texto não é o workshop em si, mas não posso deixar de comentar o quão proveitoso foi. Ouvir as experiências de quem convive diariamente com orquídeas, lutando por sua preservação, é uma grande lição de vida. Enfim, para resumir, é claro que a parte teórica da coisa valeu muito. Além do material exposto em sala, fizemos um passeio pelas instalações e pude ver com mais detalhes aquilo que havia sondado logo cedo pela manhã, desde o viveiro de mudas até o orquidário.

Na hora do almoço, mais uma bela refeição. Em seguida, voltamos às atividades do workshop. Após mais uma parte teórica, novamente fomos ao orquidário e tivemos uma aula in loco sobre as plantas, além de uma análise sobre o mal que a retirada indiscriminada das plantas de nossas florestas ocasiona em nossos biomas. Além disso, pudemos aprender bastante sobre a reserva em si, como é feita a conservação do local, como são direcionados os estudos ali na reserva, como é feita a interação entre natureza e os humanos que ali habitam. Uma aula sensacional de consciência e conservação, além de respeito à natureza e sua magnitude.

Jantei, conversei um pouco com o pessoal e me recolhi para dormir. Na minha mente já havia um plano: acordar mais cedo e filmar a passarinhada que logo cedo se deliciava com as frutas que ficavam próximas à cozinha. Dito e feito, acordei cedinho, ainda com aquela névoa de serra pairando no ar, posicionei a câmera e deixei a natureza fazer sua parte. O resultado é este:

O dia seguinte foi voltado ao deslumbre das belezas naturais do local. Ao contrário do dia anterior, que alternou entre períodos nublados e de chuva, o domingo estava com um sol esplendoroso. Aproveitei para conhecer um ponto muito interessante do Legado, a Trilha Poço do Cambuci. A trilha é destinada à observação de animais e plantas, sendo que após cerca de 800 metros visitante encontrará um pequeno poço de captação de água. Na trilha é possível ver uma grande variedade de orquídeas, além dos rastros das antas que habitam o complexo. Para tornar a visita mais interessante, havia a missão de replantar algumas orquídeas resgatadas no parque. Dei sorte, pude fazer o ciclo completo: achei uma árvore caída com uma e pude realocá-la em uma árvore próximo ao local onde ela estava originalmente.

Aqui, abro um parênteses para um detalhe que faz toda diferença: os sons da natureza. A variedade de sons proveniente da mata era imensa e, ao mesmo tempo, relaxante. Soma-se a isso o oxigênio limpo que estava respirando e temos uma provável definição da palavra paraíso.

Almocei e fui para a última parte da aventura: um passeio de barco pelo rio Juquiá. Não esperava por esta parte da aventura e curti bastante. Descemos até o rio e após uma breve explicação de segurança, lá fomos nós. O intuito ali era ver a mata intocada e suas árvores centenárias (e gigantescas). Claro que foi possível ver orquídeas no caminho, além de vários animais. Mas o grande barato foi realmente o passeio. A imensidão do rio naquele ponto por causa da represa logo adiante nos faz pensar na imensidão dos elementos na natureza e como somos pequenos neste imenso universo. A reflexão é profunda e prazerosa. Terminamos o passeio em uma pequena cachoeira, mas não entramos no rio porque naquele momento já estava novamente nublado e chuvoso.

Voltamos à base e aí já era o momento de dizer adeus. Depois de dois dias de muito aprendizado e contato com a natureza, era hora de partir. Algo certamente havia mudado em mim após aquela experiência, apesar de, no momento, não saber ao certo o que era. Peguei novamente os 40km de estrada até a rodovia e fui pensando. No caminho, parei em uma das represas para registrar algumas fotos. Novamente o Sol estava presente, a tarde estava linda. Aquele ar, aquela paz, aquela vista. Não queria sair dali. Mas fui em frente. Saí da reserva e pouco antes de Juquiá a natureza ainda me presenteou com uma composição e cores que há tempos não via, um belo entardecer com a Lua já visível de dia.

Fui para casa satisfeito. E mais, estava tentado a ajudar de alguma forma no projeto do Legado. Ainda não sei como nem quando, mas certamente vou querer ajudar de alguma forma a conservação deste pedaço de paraíso.

Se quiser saber mais sobre o local, acesse legadodasaguas.com.br

Abraços!

Rotuladora – minha solução para etiquetar orquídeas

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Rotuladora? Pois é, o fato é que cansei de escrever nas plaquinhas e depois de um tempo perder tudo.

Tenho algumas plantas no orquidário que, como são jovens, não faço ideia de quem são. Nomes? Tinham sim, mas o tempo se encarregou de mandar tudo para o espaço.

Não adianta você me dizer que caneta, lápis, o que for, aguenta o passar do tempo. Não.

Pensei bastante e resolvi modernizar a brincadeira aqui em casa. Comprei uma rotuladora e mandei ver nas etiquetas. Após os testes e agora o uso contínuo, só posso dizer que estou satisfeito. Não preciso traduzir minha letra e sempre o nome e o código da planta estão perfeitamente visíveis quando preciso.

Recomendo para quem quiser investir um pouco em sua coleção. Ela grava a fita como se fosse uma tatuagem, não é tinta. Não sai com o Sol, chuva, nem nada. Tem fitas de várias cores e tamanhos (na época destas fotos utilizava fita branca, hoje utilizo transparente, já que minhas etiquetas são coloridas). E não é caro, para etiquetas de plantas rende um monte…

Abraços

Pragas e doenças: podridão negra

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Uma das doenças mais chatas e cruéis que já vi em uma orquídea, a podridão negra ataca principalmente plantas dos gêneros Cattleya, Laelia e seus híbridos. Aparece principalmente no inverno ou em épocas muito úmidas, como a que estamos enfrentando agora no Sul do Brasil.

Plantas totalmente expostas à chuva ou plantas cuja a irrigação as mantém úmidas por um longo período facilitam o aparecimento da doença. No caso da irrigação, há relatos que plantas regadas pela manhã e em local pouco ventilado são mais propícias à doença, pois o calor emitido pelos raios solares aquecem a planta úmida que, ao atingir uma temperatura em torno de 28 graus, propicia um ambiente ideal para a eclosão de fungos.

Podridão negra atacando um de meus híbridos

As condições úmidas nestes casos favorecem o crescimento da doença, pois os esporos inertes (Pythium ultimun e Phytophtora cactorum) sobrevivem no solo úmido até que um hospedeiro esteja disponível para proliferação. Então, os esporos inertes germinam e esporos móveis penetram as raízes. As raízes não precisam de feridas para serem infectadas, o que é mais um agravante, pois uma planta completamente sadia pode ser infectada rapidamente.

Outro fator que propicia o aparecimento da doença é a salinidade do substrato, portanto esteja atento ao excesso de fertilizantes. Os sais acumulados no substrato dos vasos pode ajudar à proliferação da doença.

Seu ataque começa pelo rizoma, passando depois para os pseudobulbos e folhas com incrível rapidez. A doença transforma essas partes da planta numa massa pardacenta e de odor desagradável, evidenciado por pequenas lesões negras. A doença continua a se espalhar até que ela finalmente mata a planta.

Podridão negra atacando uma de minhas tigrinas

Caso você tenha tido um surto da doença em seu orquidário, evite cultivar suas orquídeas perto de qualquer área aonde a podridão negra foi identificada. Mantenha ferramentas e regadores higienizados. Compre apenas orquídeas certificadas de uma fonte com boa reputação. Inspecione as plantas com cuidado por sinais de podridão negra quando você comprá-las. Cuidados nunca são demais e podem salvar seu orquidário de duras perdas.

Podridão negra e seus efeitos devastadores

Como controlar

Isole as plantas infectadas e pare totalmente as regas. Utilize compostos baseados em cobre nas orquídeas infectadas (um exemplo pode ser a calda bordalesa, que você confere a receita clicando aqui). Estes compostos incluem hidróxido de cobre, óxido de cobre, sulfato de cobre básico, oxicloreto de cobre, e carbonato de amônio de cobre. Aplique-os com moderação porque muito cobre pode danificar sua orquídea. Os fungicidas Manebe, Mancozeb, e Zinebe também são eficientes no controle de podridão negra. Compostos de estanho orgânico também são eficientes, mas muito mais tóxicos para a planta. Você também pode utilizar os compostos sistêmicos Fenilamida, Fosfonato, Acido Cinâmico e Quinina, já que eles se movimentam para cima das raízes para matar a podridão negra nas folhas.

Planta tomada pela podridão, infelizmente

Aplique o produto escolhido quando a planta estiver em crescimento ativo. Pulverize o local onde se encontrava a planta e todo o recinto para tentar sanar o problema no local. Corte o local afetado com uma tesoura flambada ou um bisturi esterilizado a parte atacada e a descarte, queimando-a, bem como todo o substrato e o vaso onde estava a planta. Se a planta estiver bem debilitada descarte-a, queimando-a.

Você também poderá fazer a imersão da planta numa solução de hipoclorito de cálcio e um fungicida sistêmico por uma hora, secando-a bem em seguida.

Por fim, aplique sobre a planta uma camada de canela em pó (você pode ler meu artigo sobre o uso de canela em orquídeas clicando aqui). Repita a dose sobre a planta e substrato alguns dias após o seu replante.

Lembre-se sempre de usar material de corte esterilizado e evitar que a água da rega caia da planta de cima diretamente na planta que esteja logo abaixo para não disseminar problemas. Mantenha as plantas em local arejado ou de temperatura amena.

Podridão Negra Bacteriana

Existe um outro tipo de podridão negra, não causada por fungos e sim por bactérias do gênero Erwinia. Não é muito freqüente no Brasil mas é extremamente letal, causando surgimento de manchas negras, com aspecto aquoso e cheiro repulsivo. É de desenvolvimento rápido, tomando conta da planta em poucas semanas, levando-a à morte. Muitas vezes provoca um colapso da estrutura das folhas, ficando totalmente amolecidas e murchas.

Referências

  • aorquidea.com.br
  • orkideas.com.br
  • ehow.com.br

Abraços!

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